África pode melhorar a produtividade e a qualidade do seu crescimento económico investindo num ciclo virtuoso de melhores competências para melhores empregos. Os mercados de trabalho devem aumentar rapidamente a oferta e a procura de trabalhadores qualificados. Do lado da oferta, embora os níveis de educação tenham progredido, a qualidade no ensino deverecuperar o atraso em relação a outras regiões em desenvolvimento. Nas últimas duas décadas, as taxas de conclusão do ensino primário aumentaram de cerca de 55% para 75%. No entanto, as crianças em África beneficiam de apenas 5,1 anos de escolaridade ajustado à aprendizagem, em comparação com 7,2 na Ásia em desenvolvimento e 7,8 na América Latina e Caraíbas. Do lado da procura, os mercados de trabalho devem criar empregos de qualidade para trabalhadores qualificados. Mais de 80% dos jovens africanos que frequentam a escola aspiram a trabalhar em profissões altamente qualificadas, mas apenas 8% encontram esses empregos. A procura de trabalhadores qualificados continua a ser baixa porque o crescimento do emprego tem se limitado a setores de baixa produtividade como a agricultura, o comércio retalhista e os serviços. Cerca de 82% dos trabalhadores africanos são informais, em comparação com 56% na América Latina e Caraíbas e 73% na Ásia em desenvolvimento. Além disso, os trabalhadores altamente qualificados tendem a migrar para fora do continente: entre os indivíduos com formação superior nascidos na África, 17% residiam no estrangeiro em 2020, dos quais 72% escolheram países de rendimento elevado.
A população africana mais qualificada e em crescimento, está a mudar a força de trabalho mundial. A população em idade ativa de continente (ou seja, entre os 15 e 64 anos) quase duplicará nos próximos 26 anos, passando de 849 milhões em 2024 para 1 556 milhões em 2050. Este crescimento representará 85% do aumento da população global em idade ativa. O número de jovens africanos a concluir o ensino secundário superior ou terciáriomais do que duplicará entre 2020 e 2040, passando de 103 milhões para 240 milhões.
Os retornos socioeconómicos de uma melhor educação são mais elevados em África do que noutras regiões do mundo. Cada ano adicional de educação poderá aumentar os rendimentos dos alunos africanos entre 8,2%-11,4%, em comparação com 7,6% e 9,1% para os países da América Latina e Caraíbas. Na indústria de transformação, dados de 27 países africanos mostram que um aumento de 10 pontos percentuais no número de trabalhadores com ensino secundário e superior aumenta a produtividade média das empresas (vendas por trabalhador) de 4,2% e 4,8%, respetivamente. Se todas as crianças africanas adquirissem competências fundamentais de literacia e numeracia, o produto interno bruto poderia aumentar mais de 22 vezes, ou seja, cerca de 154 biliões de dólares (mais do que qualquer outro continente).
Os mercados de trabalho africanos estão a adaptar-se às novas tendências, o que está a redefinir a procura e a oferta de competências. À medida que a digitalização do continente avança, o número de empregos que requerem competências digitais está a aumentar. Até 2030, 70% destes empregos exigirão competências digitais básicas e 23% competências digitais intermédias, especialmente no setor dos serviços. O desenvolvimento das energias renováveis e das infraestruturas sustentáveis pode gerar mais de 9 milhões de novos postos de trabalho até 2030 e mais 3 milhões de novos empregos até 2050. Muitas das carências de competências no setor das energias renováveis estão nas funções vocacionais. Medidas de adaptação às alterações climáticas, incluindo uma melhor literacia climática e a agricultura inteligente em termos de clima, aumentarão a produtividade e proporcionarão novas oportunidades de emprego.
Os países africanos beneficiariam de políticas de desenvolvimento de competências que equilibrassem múltiplos compromissos, nomeadamente entre a elevada produtividade, o potencial de emprego e a inclusão. As politicas devem ter em conta as vantagens comparativas, as capacidades e os recursos financeiros de cada país. O relatório Dinâmicas do desenvolvimento em África 2024 propõe cinco opções políticas para colmatar as lacunas de competências em África:
1. Para serem eficazes, as estratégias de competências devem basear-se numa análise detalhada de dados relativos a cada contexto nacional. Os países enfrentam situações diferentes: As economias africanas que se estão a diversificar (por exemplo, Egito, Essuatíni, Maurícia, Senegal e Tunísia) dependem de profissões que requerem mais competências fundamentais e interpessoais,bem como mais competências em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) do que os países agrários (por exemplo, Burundi, República Democrática do Congo, Moçambique, Tanzânia e Uganda) que dependem do emprego agrícola. Apenas a Argélia, Maurícias, Marrocos e Tunísia apresentam taxas de graduação em STEM superiores a 20%, associadas a um elevado número de inscrições no ensino superior. Para alinhar a oferta de competências com a procura futuraos, as estratégias nacionais podem utilizar dados detalhados e o big data (como portais de emprego) para identificar lacunas de competências em setores específicos. Melhorar os sistemas de informação do mercado de trabalho, aumentar a frequência dos inquéritos e colaborar mais estreitamente com o setor privado são formas de avaliar melhor a oferta e a procura de competências.
2. Os países africanos podem aumentar o investimento em educação e melhorar a sua eficiência através de intervenções eficazes em termos de custos e de avaliações da aprendizagem. As intervenções mais eficazes incluem uma pedagogia estruturada e ensino orientadopor nível de aprendizagem. As avaliações de aprendizagem comparáveis a nível nacional, regional (por exemplo, PASEC, SACMEQ) e internacional (por exemplo, PISA, TIMSS e PIRLS) podem servir para monitorizar os resultados educativos e os impactos das políticas, fornecendo evidências para formulação de políticas.
3. A formação e o reconhecimento de competências podem melhorar a produtividade dos trabalhadores informais e das mulheres. A formação em empreendedorismo, gestão e competências interpessoais está generalizada. Os formatos de formação variam em termos de eficácia edevem ser escolhidos com cuidado para aumentar a produtividade e a inclusão. O reconhecimento da aprendizagem prévia (RPL) valida os conhecimentos que os trabalhadores informais adquiriram sem formação formal e pode ajudá-los a encontrar empregos mais produtivos. Cabo Verde, Gana, Nigéria, Tanzânia, Togo e Tunísia, entre outros, desenvolveram programas deste tipo, entre outros.
4. As instituições de ensino e formação técnica e profissional (EFTP) podem adaptar melhor as suas ofertas de formação às necessidades emergentes de competências em África. As instituições de EFTP podem tornar-se mais atrativas para os estudantes e os empregadores, através da conceção de currículos mais relevantes, incluindo em matéria de competências digitais, e do desenvolvimento de ligações mais fortes com o setor privado. Apenas 30% dos formadores de EFTP inquiridos em África têm experiência recente em empresas relacionadas com os setores que ensinam. As boas práticas podem ser seguidas, incluindo os dez Institutos de Gestão Delegada de Marrocos localizados dentro de zonas económicas especiais que oferecem cursos de formação personalizados. O financiamento nacional para a formação profissional pode ser mais responsável e depender menos dos parceiros de desenvolvimento.
5. Quadros regionais e parcerias internacionais mais amplas podem acelerar o desenvolvimento de competências. A harmonização de políticas entre os países pode permitir a mobilidade de competências, o comércio livre e a livre circulação de pessoas através das fronteiras, criando benefícios a partir da sua interação. O Projeto de Competências para a Transformação e Integração Regional da África Oriental (EASTRIP) introduz uma abordagem regional para competências especializadas em EFTP. Em toda a África, os Centros de Excelência regionais da AUDA-NEPAD ajudam a antecipar as necessidades setoriais.As parcerias internacionais e os intercâmbios universitários, como o programas ERASMUS+, são cruciais para o desenvolvimento e retenção de competências.