Desde sua criação como primeiro regulador independente do Brasil em 1996, a ANEEL tem apoiado o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro e construído uma reputação como um regulador econômico competente com a ambição de liderar e de se superar.
O setor elétrico brasileiro passou por profundas transformações ao longo das últimas décadas. A ANEEL acompanhou e implementou importantes reformas buscando reformar um setor que se caracterizou por empresas de energia verticalmente integradas e controladas pelo Estado nos anos 1990, e por crises de fornecimento nos anos 2000. O setor híbrido atual (2020) combina os ambientes de contratação livre e regulada, estando sujeito a novos planos de liberalização e privatização. Este impulso final para a “modernização do setor” busca, entre outras coisas, reduzir as tarifas de eletricidade residencial que são objeto de comparação desfavorável em relação aos países vizinhos ou países “hidroelétricos” semelhantes. Cabe destacar ainda que o Brasil está atualmente entre os países que menos dependem do carvão no mundo, com 45% da oferta total de energia proveniente de fontes renováveis1.
O cenário institucional do setor elétrico brasileiro inclui um grande número de órgãos públicos e, em alguns casos, faltam mecanismos formais de coordenação. Na pior das hipóteses, um setor saturado pode gerar problemas de clareza de papéis. Além disso, o setor elétrico está se tornando mais complexo com o tempo conforme vai se expandindo e sendo transformado pelo progresso tecnológico. Nesse contexto, modelos de negócios inovadores oferecem a possibilidade de melhorar a eficiência do setor e gerar valor para os consumidores, mas há um risco de que a política e a regulação fiquem aquém dessa transformação.
As partes interessadas reconhecem a ANEEL como um regulador tecnicamente capaz e as equipes internas da ANEEL fornecem uma base sólida de evidências para a tomada de decisão. A ANEEL também demonstra uma vontade de melhorar seus processos. Por exemplo, a agência liderou esforços para melhorar a qualidade regulatória, utilizando análises de impacto regulatório, sendo pioneira nessa prática entre as agências federais brasileiras antes de se tornar uma exigência legal. A utilização de novas abordagens, tais como insights comportamentais, e a participação ativa da ANEEL em muitas redes internacionais atestam ainda mais o desejo da agência de inovar na sua forma de trabalhar.
Num contexto de esforços nacionais anticorrupção, a ANEEL implementou uma série de medidas de transparência e fortes arranjos institucionais. A ANEEL garante transparência na tomada de decisão através de seus procedimentos de consulta e da transmissão on-line das reuniões da diretoria. Os Indicadores da OCDE de 2018 sobre Governança dos Reguladores Setoriais mostram que a ANEEL tem a melhor pontuação de independência entre os reguladores de energia, indicando um alto número de salvaguardas formais de independência, o que é considerado uma boa prática. Para garantir a prestação de contas de seus processos, a ANEEL realiza consultas sobre as decisões, publica uma enorme quantidade de dados e fornece relatórios sobre o progresso de acordo com seus indicadores estratégicos.
Com base nos resultados sólidos desse trabalho e na sua reputação, a ANEEL pode fazer um esforço ainda maior para criar uma cultura de independência em suas relações com os stakeholders do setor e avançar o último passo para se tornar um regulador de referência mundial. Isso exigirá um diálogo transparente com as partes interessadas do setor quanto aos papéis e responsabilidades na concepção e implementação da “modernização do setor”. A ANEEL também precisará definir sua agenda estratégica para além da tomada de decisão técnica e usar sua discricionariedade dentro das exigências legais e técnicas para garantir que as ações regulatórias beneficiem os objetivos da política de longo prazo para o setor. Ao fazer isso, a ANEEL pode promover mudanças que salvaguardem sua autonomia com relação a seus recursos. Por fim, ao conceber e implementar processos, o regulador precisará se concentrar na sua qualidade e nos seus resultados para garantir métodos simplificados de trabalho e evitar a burocratização.