A recessão económica desencadeada pela pandemia da COVID-19 está a afetar duramente os países africanos. A maior parte enfrenta a sua primeira recessão em 25 anos: é provável que o crescimento do produto interno bruto (PIB) diminua em 41 dos 54 países em 2020, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional (outubro de 2020). Em contrapartida, quando a crise financeira mundial atingiu o continente em 2009, apenas 11 países entraram em recessão. A crise afetou o crescimento de África através de vários canais internos e externos (Tabela 1). Por exemplo, a forte queda dos preços do petróleo no primeiro trimestre de 2020 abalou gravemente as economias baseadas na produção e exportação de matérias–primas. O encerramento do setor do turismo mundial, que emprega 24,3 milhões de pessoas no continente, afetou duramente os países dependentes do turismo. A procura interna e o comércio regional foram negativamente afetados pelas medidas de confinamento. Pelo menos 42 países impuseram confinamentos parciais ou totais às atividades económicas e à livre circulação de pessoas (UNECA, 2020). A crise levou igualmente ao adiamento da fase de implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana até 2021.
É provável que a crise mundial prejudique África e a afaste da trajetória de desenvolvimento pré - COVID-19. A crise poderá levar cerca de 23 milhões de pessoas da África Subsariana para uma situação de pobreza extrema ao longo de 2020. A acumulação de capital e a produtividade em África poderão permanecer abaixo das suas trajetórias anteriores à COVID-19 até 2030 (Djiofacik, Dudu e Zeufack, 2020). As perturbações com maiores consequências nas economias nacionais podem ser a diminuição da produtividade, a redução da utilização de capital e o aumento dos custos do comércio. A estas acrescem as perdas no sucesso escolar e na saúde, que podem prejudicar a capacidade desta geração auferir de rendimentos mais elevados e melhorar o seu bem-estar. Estas perturbações irão atrasar a transformação produtiva de África e, consequentemente, a realização do plano de ação da União Africana intitulado Agenda 2063: A África que queremos.
Os governos africanos estão a enfrentar a pandemia de COVID-19 com menos recursos financeiros per capita do que durante a crise financeira mundial de 2008. O montante do financiamento per capita diminuiu no período de 2010-18, tanto no tocante às receitas internas como aos fluxos financeiros externos, em 18% e 5%, respetivamente (Figura 1). Em média, os países africanos registaram receitas públicas de USD 384 per capita em 2018, em comparação com USD 2 226 nos países da América Latina e Caraíbas, USD 1 314 nos países em desenvolvimento na Ásia e mais de USD 15 000 nos países europeus e outros países de rendimento elevado. Os rácios impostos/PIB já estavam a estagnar à 17,2% desde 2015 em 26 países africanos, apesar das importantes reformas fiscais (OCDE/ATAF/Comissão da UA, 2019).
As receitas públicas irão contrair-se ainda mais. Os rácios impostos/PIB devem contrair-se em cerca de 10% em, pelo menos, 22 países africanos entre 2019 e 2020; o total das poupanças nacionais poderá diminuir 18%, as remessas dos emigrantes 25% e o investimento direto estrangeiro (IDE) 40%. Os doadores comprometeram-se a manter a ajuda pública ao desenvolvimento (APD) a níveis anteriores à crise. No entanto, os défices orçamentais irão provavelmente duplicar em 2020, pelo que é provável que a dívida de África aumente para cerca de 70% do PIB em USD a preços correntes face a 56,3%, em 2019. Embora esta média continue a ser sustentável, o rácio dívida/PIB deverá ultrapassar 100% do PIB em, pelo menos, sete países. A moratória da dívida do G20, que se iniciou em abril de 2020, assegura o alívio necessário aos países africanos, mas continua a ser insuficiente. A suspensão e, em alguns casos, a reestruturação da dívida podem revelar-se necessárias para libertar recursos essenciais para alcançar a Agenda 2063 da União Africana. Sempre que possível, as negociações da dívida devem incluir o cada vez maior grupo de credores privados (ver Capítulo 8). Por último, a crise da COVID-19 torna a aceleração da transformação produtiva e dos processos de integração continental de África mais urgentes.