Após a pandemia de COVID-19, sociedades e sistemas de saúde na América Latina e no Caribe (ALC) continuam a enfrentar ameaças em larga escala que têm gerado importantes consequencias para a saúde e o bem-estar da população. Mais do que nunca, os sistemas de saúde da região precisam ser fortalecidos para que possuam um alto desempenho em tempos normais, mas também para que possam resistir a grandes choques, tais como pandemias, os efeitos das mudanças climáticas, ou crises financeiras.
Embora a pandemia tenha colocado em evidência vulnerabilidades até mesmo em sistemas de saúde melhor financiados e preparados, como nos países de alta renda da OCDE, os trágicos resultados em saúde da COVID-19 na ALC foram em grande parte associados a limitações estruturais e ao subinvestimento crônico em saúde. Os países da ALC tiveram que enfrentar a COVID-19 com menos médicos, enfermeiros e leitos hospitalares do que a média dos países da OCDE.
Nesse contexto, apesar de que certas políticas de saúde pública ajudaram a evitar a perda de muitas vidas na região, em 2020 e 2021 foram registradas na ALC 2,3 milhões de mortes a mais do que era esperado para aqueles anos caso a pandemia não tivesse ocorrido. Além disso, as deficiências dos sistemas de saúde na ALC foram agravadas por uma série de desafios sociais, incluindo altos níveis de pobreza, desigualdade de renda e trabalho informal; grandes grupos populacionais vivendo em moradias informais sem acesso a serviços essenciais; e as crescentes ameaças a ecossistemas da região, as quais afetam as populações mais diretamente integradas a tais regiões.
Em uma região geograficamente diversa como a ALC, as consequências das mudanças climáticas acrescentam uma camada de complexidade aos sistemas de saúde. Tal diversidade inclui montanhas e geleiras de alta altitude, a maior floresta tropical do mundo, várias pequenas nações insulares, e megalópoles com dezenas de milhões de pessoas. Os sistemas de saúde da região devem se preparar para enfrentarem diferentes padrões de doenças infecciosas, a exposição a temperaturas extremas e eventos climáticos catastróficos, tal como o aumento do nível do mar. Ignorar tais tendências seria correr o risco de consequências terríveis para a região.
Diante desses múltiplos desafios, é fundamental que países desenvolvam estratégias de saúde eficazes que levem em consideração as realidades complexas da ALC. Orçamentos limitados para a saúde na região tornam a tarefa de fornecer serviços de saúde de alta qualidade mais desafiadora, exigindo soluções inovadoras baseadas em dados e evidências. No entanto, os investimentos necessários para fortalecer os sistemas de saúde são apenas uma fração do que a pandemia custou às economias dos países da ALC. Da mesma forma, é urgente tornar os sistemas de saúde na região mais ecológicos e resilientes para enfrentar os desafios da mudança climática. Nas próximas décadas, mais e melhores investimentos em saúde serão necessários para assegurar que os requisitos de saúde da população sejam atendidos com maior eficiência e melhor focalizadas nas necessidades populacionais.
Este relatório, escrito em conjunto pela OCDE e pelo Banco Mundial, busca oferecer uma relevante contribuição a tais esforços, combinando uma análise retrospectiva das lições a serem aprendidas pela resposta à pandemia na ALC com um olhar prospectivo sobre como os sistemas de saúde podem se preparar para o desafio futuro da mudança climática. Além disso, ele reúne o conjunto mais completo e atualizado de dados e indicadores sobre todos os aspectos dos sistemas de saúde na região. A OCDE e o Banco Mundial continuarão a trabalhar em conjunto -buscando também colaborar com parceiros chave, como a Organização Pan-Americana da Saúde - para apoiar governos e sociedades da região a melhorar o desempenho de seus sistemas de saúde.