Este capítulo identifica as políticas prioritárias para facilitar as cadeias de valor regionais no contexto da pandemia de COVID-19 e da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA). Em primeiro lugar, analisa os esforços desenvolvidos no passado a nível continental e regional para desenvolver cadeias de valor regionais e destaca as lições fundamentais para a implementação da ZCLCA. Em segundo lugar, apresenta recomendações sobre a forma como os decisores políticos africanos podem trabalhar com o setor privado para acelerar a adoção digital e reduzir os custos da produção e do comércio transfronteiriços. Por último, o capítulo analisa políticas públicas para criar vínculos mais fortes dentro das redes industriais africanas. Centra-se nas políticas relacionadas com o desenvolvimento de competências, contratos públicos e investimento.
Dinâmicas do desenvolvimento em África 2022
Capítulo 2. Como reforçar as cadeias de valor regionais na Zona de Comércio Livre Continental Africana
Copy link to Capítulo 2. Como reforçar as cadeias de valor regionais na Zona de Comércio Livre Continental AfricanaResumo
Em síntese
Copy link to Em sínteseOs governos africanos comprometeram-se a desenvolver cadeias de valor regionais (CVR) através de uma série de programas e estratégias, tanto a nível regional como continental. Muitas iniciativas têm sido afetadas por lacunas de execução. Para colmatar estas lacunas, é necessário desenvolver políticas de CVR ascendentes, incluindo uma maior participação do setor privado. Uma melhor mobilização dos recursos internos e novas fontes de financiamento são igualmente importantes para garantir a apropriação, a execução e o acompanhamento adequado dos resultados.
Estas lições e as megatendências salientadas no Capítulo 1 apresentam duas áreas transversais para a cooperação regional:
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Os decisores políticos e o setor privado podem trabalhar em conjunto para reduzir os custos da produção e do comércio intra-africanos. Estes custos aumentaram para os níveis de 2007. A ampliação de soluções inovadoras em logística e finanças pode ajudar a diminuí-los. O desenvolvimento de infraestruturas intrarregionais de Internet e a garantia de normas acomodatícias para o fluxo de dados transfronteiriço são outras necessidades na era digital. Em 2020, apenas 16% da banda larga total em África era intrarregional, em comparação com 20 % na América Latina e Caraíbas, 56 % na Ásia e 75 % na Europa.
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Os decisores políticos podem reforçar ativamente as ligações entre trabalhadores, produtores nacionais e empresas multinacionais. Os países podem tirar partido do processo da ZCLCA para desenvolver competências, contratos públicos e quadros comuns de investimento. A prioridade dada aos polos de empresas pode contribuir para aumentar a competitividade interna e facilitar os investimentos. Entre 2012 e o início de 2019, a intensidade da luz noturna nos polos empresariais (indicativa da atividade e desenvolvimento destas áreas) quase duplicou.
As políticas para desenvolver cadeias de valor regionais devem concentrar-se no setor privado e mobilizar recursos internos
Copy link to As políticas para desenvolver cadeias de valor regionais devem concentrar-se no setor privado e mobilizar recursos internosDesde a década de 1980, as instituições africanas têm tomado iniciativas para promover cadeias de valor regionais e globais como parte de uma estratégia mais ampla para a transformação produtiva. A tabela 2.1 apresenta essas iniciativas, juntamente com os seus principais objetivos e desafios à sua execução. Em 2003, a Iniciativa Africana de Capacidade Produtiva estabeleceu dois objetivos para o desenvolvimento das cadeias de valor regionais a atingir até 2015: i) produzir “bens que satisfaçam as exigências de qualidade dos mercados atuais”; e ii) “melhorar, a fim de explorar mercados futuros”. A cada região foi atribuída uma ou mais cadeias de valor para desenvolver até 2015 (Marti e Ssenkubuge, 2009).
Tabela 2.1. Iniciativas africanas para promover cadeias de valores globais e regionais, 1980-presente
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Iniciativa (ano) |
Partes interessadas |
Objetivo principal |
Principais desafios de execução |
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Década de Desenvolvimento Industrial para África (DDIA) I (1980-90) |
CUA, CER, Estados-membros, UNECA, UNIDO (principais parceiros) |
Acabar com a dependência de África em relação aos países desenvolvidos |
Fraca base industrial e estruturas económicas Insuficiente ambiente normativo e empresarial |
DDIA II (1991-2002) |
Falta de programas ou projetos concretos e práticos Não participação da comunidade de doadores ou de outras agências das Nações Unidas |
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DDIA III (2016-2025) |
Ancorar firmemente a África numa trajetória de desenvolvimento industrial inclusivo e sustentável |
Falta de vontade política e mau planeamento nacional |
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Iniciativa Africana de Capacidade Produtiva (2003) |
Desenvolver cadeias de valor regionais através do investimento em infraestruturas e em capital humano e físico |
Falta de capacidade humana, institucional e financeira |
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Plano de ação para o desenvolvimento industrial acelerado de África (AIDA) (2007) |
Principais parceiros, Banco Mundial |
Integrar as empresas africanas em cadeias de valor globais e promover o desenvolvimento de pequenas e médias empresas e start-ups |
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Visão Africana das Minas (2009) |
AUDA-NEPAD, UNECA, Centro Africano para o Desenvolvimento Mineiro, PNUD, BAfD |
Criar ligações verticais e horizontais entre o setor mineiro, os perfis disponíveis, a investigação e desenvolvimento (I&D) e as infraestruturas |
Natureza não vinculativa Mecanismos de execução centrados no Estado que impedem a influência da sociedade civil no processo |
Iniciativa Africana para o Desenvolvimento das Indústrias de Agronegócios e Agroindustriais (3ADI) (2010) |
CUA, AUDA-NEPAD, BAfD, FAO, Fundo de Desenvolvimento Agrícola, UNECA, UNIDO |
Diminuir a dependência dos produtos importados e promover o produtos agrícolas de elevado valor acrescentado |
Competências e tecnologias insuficientes nos segmentos pós-produção da cadeia de valor agrícola Falta de complementaridades entre a iniciativa 3ADI, o Programa Detalhado para o Desenvolvimento da Agricultura em Africa (PDDAA) e o Programa de Desenvolvimento das Infraestruturas em África (PIDA) |
Conferência de Alto Nível sobre a 3ADI, o programa PDDAA e a Declaração de Maputo (2010) |
Principais parceiros |
Promover parcerias público-privadas no setor agrícola |
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Plano de Fabricação de Produtos Farmacêuticos para África (2012) |
AUDA-NEPAD, CDC África, CUA Departamento de Saúde, Assuntos Humanitários e Desenvolvimento Social da UA |
Reforçar a produção de produtos farmacêuticos e medicamentos essenciais a preços acessíveis |
Quadros jurídicos complexos Orientações e procedimentos de avaliação não conformes com as normas da Organização Mundial de Saúde |
Agenda 2063 (2013) |
CUA, CER, Estados-membros, AUDA-NEPAD UNECA |
“Aspiração 1: Transformação económica através de recursos naturais, produção, industrialização e valor acrescentado, bem como aumento da produtividade e competitividade (...) e tornando-se um exportador líquido de produtos alimentares” |
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Estratégia da União Africana para os produtos de base (2017) |
Principais parceiros, AUDA-NEPAD |
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Capacidades limitadas de constituição de parcerias público-privadas |
Criação da ZCLCA (2018) |
Principais parceiros |
Aumentar o comércio intra-africano Apoiar a transformação de África através da industrialização baseada em recursos naturais e de uma política de valor acrescentado |
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Semana da Industrialização de África (2018) |
UNIDO, AUDA-NEPAD, UNECA, Estados-membros |
Sensibilizar para uma industrialização acelerada, sustentável e inclusiva |
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Nota: AUDA-NEPAD: Agência de Desenvolvimento da União Africana - Nova Parceria para o Desenvolvimento de África; BAfD : Banco Africano de Desenvolvimento; UNECA: Comissão Económica das Nações Unidas para África; CERs: Comunidades Económicas Regionais; CUA: Comissão da União Africana; CDC : Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças; FAO: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura; UNIDO: Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial; PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Fonte: Compilação dos autores.
Nos últimos anos, as Comunidades Económicas Regionais (CER) definiram roteiros de cadeias de valor regionais específicas. O nível regional oferece a oportunidade de identificar cadeias de valor baseadas em vantagens comparativas, como as mencionadas no anexo 2.A1. Por exemplo, o Roteiro de Industrialização Regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para 2015-2063 visa desenvolver seis cadeias de valor regionais (agroprocessamento, minerais e mineração, produtos farmacêuticos, outros bens de consumo, bens de capital e serviços). Desde 2014, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) adotaram o Programa de Competitividade da África Ocidental, um plano de seis anos para apoiar oito cadeias de valor selecionadas (mandioca, têxtil e vestuário, manga, tecnologias de informação e comunicação, cebola, ananás, peles e couro) a nível nacional e regional. Na sequência da adoção da Estratégia para o Algodão, Têxteis e Vestuário da Comunidade da África Oriental (CAO), o setor tornou-se prioritário no âmbito dos planos nacionais de desenvolvimento dos países membros com o objetivo comum de promover uma indústria têxtil e de vestuário integrada e competitiva a nível mundial.
Apesar do número crescente de iniciativas, a maioria ficou aquém dos resultados esperados até agora. A maioria das economias africanas não conseguiu expandir a sua participação nas cadeias de valor regionais (Capítulo 1). O comércio intrarregional continua a representar apenas 15 % do comércio total de África. O cumprimento limitado de muitos compromissos regionais e continentais também suscitou preocupações relativamente a uma “crise de execução” (UA, 2017). No entanto, é importante salientar que o ritmo da integração económica em África é semelhante ao observado na maioria das outras regiões do mundo. Por exemplo, o mercado único europeu só entrou em vigor cerca de 35 anos depois de a Comunidade Económica Europeia ter identificado o desenvolvimento de um mercado comum como um objetivo fundamental. Outros desafios, como a lenta transformação produtiva, também limitaram o progresso.
Estas experiências realçam a importância de evitar uma abordagem do topo para a base no desenvolvimento das cadeias de valor regionais. É provável que as abordagens do topo para a base ignorem condições, necessidades e oportunidades específicas para as empresas na produção e comércio transfronteiriços em África (Hartzenberg, 2011; Ndzana Olomo, 2021a). Além disso, a não tomada em consideração dos interesses e incentivos internos resulta muitas vezes numa lacuna de execução. As iniciativas regionais podem falhar quando enfrentam interesses políticos e empresariais enraizados (Byiers et al., 2021).
A mobilização limitada de recursos internos dificultou a execução dos programas regionais de industrialização anteriores. A maioria das iniciativas não dispõe de recursos adequados e de mecanismos institucionais para acompanhar e avaliar a execução. Por exemplo, muitos países não respeitaram o seu compromisso com a Declaração de Maputo, que apela à reserva de pelo menos 10 % dos orçamentos nacionais para o desenvolvimento agrícola (UA, 2016). A Década de Desenvolvimento Industrial para África não conseguiu formular uma estratégia operacional para a afetação de recursos financeiros. Da mesma forma, muitos países não implementaram os programas da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), que dependiam demasiado de influxos financeiros externos imprevisíveis. A melhoria da mobilização de recursos internos será, pois, essencial para financiar a execução das estratégias de desenvolvimento regional. Como tal, a União Africana pretende financiar 75 a 90 % dos objetivos da Agenda 2063 através da mobilização de recursos internos, sendo o restante proveniente de mecanismos de financiamento externo.
A participação do setor privado é fundamental para o desenvolvimento das cadeias de valor regionais
Copy link to A participação do setor privado é fundamental para o desenvolvimento das cadeias de valor regionaisAs instituições africanas podem colaborar melhor com o setor privado na conceção e implementação de políticas de CVR.Byiers et al. (2021) propõem uma abordagem em seis fases, adaptável e orientada por problemas, para a cooperação entre os setores público e privado. A adoção de um processo ascendente impulsionado pelo setor privado ajuda a manter o ímpeto político, ao mesmo tempo que melhor identifica prioridades, como a redução de tarifas, o fornecimento de infraestruturas, o desenvolvimento de competências e a melhoria do acesso ao financiamento (OCDE, 2020).
As CER desempenham um papel importante para facilitar o envolvimento do setor privado nas CVR (ZCLCA/PNUD, 2021). Nos últimos anos, surgiram vários programas regionais que oferecem novas plataformas de discussão entre decisores políticos, representantes empresariais e partes interessadas relevantes nas cadeias de valor estratégicas. Por exemplo, as edições anuais da Feira Bancária e das PME na UEMOA, iniciadas em 2014, reuniram 525 expositores e organizaram cerca de 1 200 reuniões entre empresas. Desde 2009, a secção ganesa do Programa Competitividade da África Ocidental tem facilitado uma série de projetos para ligar a Federação dos Exportadores do Gana, a Autoridade de Promoção das Exportações do Gana e o Programa de Apoio às Empresas – Regime de Alocação de Subvenções. Estes projetos podem ajudar a identificar as principais restrições e oportunidades na produção, transformação, conformidade e acesso aos mercados para cadeias de valor (WACOMP Gana, 2020).
O reforço da representação institucional das PME pode garantir o caráter inclusivo da integração nas CVR, melhorar as ligações e criar mais empregos. Uma melhor representação das PME nas associações industriais pode satisfazer os seus interesses aumentando o seu poder de negociação e comunicando as suas necessidades específicas nas discussões políticas. A título de exemplo, o Durban Auto Cluster e o South African Automotive Benchmarking Club permitem que os fornecedores locais nos polos automóveis de Durban interajam e colaborem para satisfazer a procura dos clientes (CNUCED, 2010).
Uma melhor mobilização dos recursos internos e a libertação de novas fontes de financiamento são necessárias para reduzir as lacunas de financiamento nas estratégias regionais
Copy link to Uma melhor mobilização dos recursos internos e a libertação de novas fontes de financiamento são necessárias para reduzir as lacunas de financiamento nas estratégias regionaisA nível nacional, as reformas das administrações fiscais podem melhorar a mobilização de recursos internos e reforçar os recursos financeiros disponíveis para os governos africanos. Alguns países alcançaram progressos significativos na expansão das suas receitas através de reformas administrativas. No Ruanda, por exemplo, a digitalização dos sistemas de cobrança de impostos contribuiu para melhorar o cumprimento. Em média, o rácio impostos/PIB em 30 países africanos aumentou na última década, atingindo 16.6 % em 2019. No entanto, este aumento permanece abaixo do crescimento médio observado na América Latina e Caraíbas e na OCDE durante o mesmo período – o que sugere uma margem para novas melhorias (OCDE/CUA/ATAF, 2021a). Além disso, combater os fluxos financeiros ilícitos ajuda a lutar contra a corrupção financeira e a preservar os recursos para o desenvolvimento de África. A este respeito, a União Africana, a par dos governos africanos e dos parceiros internacionais, está a trabalhar ativamente no sentido de melhorar a transparência e o intercâmbio transfronteiriço de informações nas suas auditorias fiscais (UA, 2019a; OCDE/CUA/ATAF, 2021b).
A diversificação das fontes de financiamento é crucial no contexto da pandemia de COVID-19 (Ndzana Olomo, 2021b). Na medida em que a luta contra a pandemia reduziu significativamente a margem orçamental disponível aos governos africanos, os países precisam de “mobilizar” o investimento privado (Capítulo 1). Até agora, as parcerias público-privadas continuam a ser limitadas em África: sete países (Egito, Gana, Quénia, Nigéria, África do Sul, Tanzânia e Uganda) são responsáveis por 50.3 % das 759 parcerias estabelecidas para desenvolver infraestruturas em África desde 1990. Alguns projetos recentes de parceria público-privada também levantam preocupações sobre as suas implicações orçamentais para os orçamentos públicos (FMI, 2019).
Uma melhor coordenação supranacional aumenta a concretização das prioridades e alarga o leque de países para as parcerias público-privadas (OCDE/ACET, 2020). Pode igualmente prestar assistência estratégica para melhorar os quadros jurídico, regulamentar e institucional, a fim de atrair novas fontes de capital para os países africanos. Por exemplo, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD) criou a Aliança Financeira Africana para as Alterações Climáticas (AFAC), ligando bolsas de valores, fundos soberanos, bancos centrais e outras instituições financeiras. Visa mobilizar capital e transferir carteiras para o investimento verde.
Os bancos regionais de desenvolvimento e os parceiros internacionais podem desempenhar um papel crucial neste processo. Os bancos regionais de desenvolvimento e as iniciativas específicas, como o Fundo de Infraestruturas África50, podem facilitar o diálogo e a correspondência entre potenciais interessados, ajudar a desenvolver linhas de projetos e fornecer estudos de viabilidade. Fazer face a incertezas, como a capacidade do setor público para conceber e acompanhar os processos de desenvolvimento de projetos, poderia reduzir a perceção dos investidores privados de alto risco quando investem em África.
Os governos africanos podem desenvolver cadeias de valor atraindo mais investimento em projetos de infraestruturas verdes. A atenção crescente dos investidores públicos e privados às normas ambientais, sociais e de governação torna cada vez mais atraentes os projetos de infraestruturas verdes, gerando novas iniciativas em todo o continente para explorar estas fontes de financiamento. A nível regional, os Chefes de Estado africanos criaram a Iniciativa de Adaptação para a África para mobilizar mil milhões de USD até 2025, através da emissão de obrigações climáticas continentais. A criação de uma linha de projetos visível das oportunidades de investimento em infraestruturas alinhada com as normas ambientais, sociais e de governação pode ajudar a atrair a atenção dos investidores. Por exemplo, em 2021, o BAfD e o Banco Europeu de Investimento lançaram uma linha comum de projetos de investimento destinados a combater as alterações climáticas e a sustentabilidade ambiental. No entanto, a transparência e as práticas de elaboração de relatórios de impacto serão cruciais para evitar o greenwashing (definido como comunicação positiva sobre projetos com fraco desempenho ambiental). Mais recentemente, 16 países africanos aderiram à iniciativa sobre Bolsas Sustentáveis das Nações Unidas para estabelecer normas comuns e plataformas de cooperação para a emissão de obrigações verdes.
Para além da mobilização de recursos, são necessários meios mais eficazes de canalização de fundos e de garantia da capacidade de financiamento dos projetos regionais. A resolução das lacunas de capacidade nos ciclos de projeto pode ajudar a acelerar o desenvolvimento de infraestruturas transfronteiriças de qualidade. Na primeira fase do Programa de Desenvolvimento das Infraestruturas em África (PIDA, 2012-2020), menos de metade dos projetos chegaram à fase de construção ou de funcionamento. A aplicação de normas de qualidade reconhecidas, como a PIDA Quality Label (etiqueta de qualidade) da Agência de Desenvolvimento da União Africana - Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (AUDA-NEPAD), pode melhorar a qualidade da preparação dos projetos e tranquilizar os potenciais investidores quanto à viabilidade dos projetos (OCDE/ACET, 2020).
Caixa 2.1. Melhorar a avaliação dos projetos transfronteiriços em África
Copy link to Caixa 2.1. Melhorar a avaliação dos projetos transfronteiriços em ÁfricaPara encorajar o investimento em infraestruturas regionais, os países africanos e os seus parceiros de desenvolvimento precisam de aplicar taxas de desconto rigorosas na avaliação dos custos e benefícios dos projetos transfronteiriços. As taxas de desconto medem as taxas às quais uma sociedade estaria disposta a renunciar ao consumo presente para consumo futuro. Ao avaliar os projetos, muitas agências governamentais africanas aplicam taxas de desconto de 10 a 12 % durante um curto período de tempo, seguindo as normas estabelecidas pelo Banco Mundial e pelos bancos multilaterais de desenvolvimento (PNUD, 2016). No entanto, tal prática dá prioridade às necessidades a curto prazo e desencoraja projetos com custos imediatos significativos e benefícios a longo prazo, como os projetos de infraestruturas (especialmente ferroviários) e de resiliência climática. A título de comparação, desde 2003, o Governo do Reino Unido baixou a taxa normal de desconto para avaliar o investimento público de 10 % para 3.5 % durante um período de avaliação de 30 anos.1 A existência de várias taxas nacionais em África sugere também a necessidade de adotar uma taxa de desconto comum para as instituições regionais e as infraestruturas transfronteiriças (como acontece na União Europeia) ou de harmonizar os princípios que determinam as taxas de desconto nacionais.
Os quadros de planeamento e avaliação devem ter em conta os benefícios supranacionais dos projetos transfronteiriços. Nos projetos transfronteiriços em que cada jurisdição é responsável pelo financiamento da sua secção nacional, a avaliação dos projetos é fragmentada em avaliações nacionais separadas das respetivas secções. Como resultado, vários países muitas vezes não têm em conta os benefícios para não residentes, subestimando os benefícios líquidos dos investimentos regionais. Por conseguinte, ao iniciar o programa das Redes Transeuropeias de Transportes em 1997, a União Europeia adotou novos cálculos que incorporam a “componente comunitária do retorno social”, a fim de prestar contas adequadas desses benefícios. Estes cálculos reforçaram em 25 % o retorno social do eixo ferroviário de grande velocidade Paris-Londres-Bruxelas-Colónia-Amesterdão, o primeiro projeto da rede ferroviária. A adoção de cálculos comparáveis para os projetos transfronteiriços do PIDA poderia determinar melhor os seus benefícios líquidos, em termos absolutos e em relação aos projetos nacionais.
1. A taxa de preferência temporal social do Reino Unido tem duas componentes: uma preferência de tempo (captando a preferência pelo valor agora e não posteriormente) e um efeito sobre a riqueza (refletindo variações nos valores graças ao crescimento esperado do consumo per capita ao longo do tempo).
Fonte: Roy (no prelo), «The case for intra-continental trade: The re-orientation of Africa’s trade and the twin challenges of development and environment», documento de base para Dinâmicas do desenvolvimento em África 2022.
Os decisores políticos e o setor privado devem trabalhar em conjunto para reduzir os custos da produção e do comércio transfronteiriços
Copy link to Os decisores políticos e o setor privado devem trabalhar em conjunto para reduzir os custos da produção e do comércio transfronteiriçosA pandemia de COVID-19 e o crescimento dos mercados internos estão a acelerar a transformação digital em África. Entre outras, novas soluções digitais, especialmente na logística e nos serviços financeiros, têm potencial para aliviar os elevados custos da produção e do comércio intra-africanos. Esta secção explora como os decisores políticos podem trabalhar com o setor privado para aumentar a escala dessas soluções, abordando questões críticas relacionadas com a regulamentação, a coordenação e as infraestruturas.
Além disso, a transformação digital das redes de produção cria novas exigências para o fluxo seguro e sem descontinuidades de dados através de fronteiras. A secção analisa as várias opções políticas para fazer face a este desafio aos níveis nacional, regional e continental, especialmente no contexto do processo da ZCLCA.
Os governos podem ajudar a desenvolver soluções inovadoras em logística comercial e nas finanças
Copy link to Os governos podem ajudar a desenvolver soluções inovadoras em logística comercial e nas finançasOs problemas associados aos serviços relacionados com o comércio, como a logística, o financiamento ao comercio e pagamentos, constituem importantes estrangulamentos para as trocas africanas. Por exemplo, os custos logísticos em África são três a quatro vezes superiores à média mundial (Plane, 2021). O défice de financiamento ao comércio de África, aproximadamente medido pelo valor total dos pedidos rejeitados para o financiamento ao comércio pelos bancos, situou-se em 81.8 mil milhões USD em 2019 – reduzindo assim a capacidade dos produtores africanos de competirem nos mercados internacionais. Do mesmo modo, os pagamentos transfronteiriços em África são dispendiosos e frequentemente atrasados (Caixa 2.2). Estes estrangulamentos afetam sobretudo as micro, pequenas e médias empresas. Por exemplo, essas empresas beneficiaram de apenas 34 % do financiamento comercial em 2019, apesar de representarem 80 % das empresas africanas (BAfD e Afreximbank, 2020). Também criam a maioria dos empregos.
Novas start-ups estão a transformar a qualidade e os custos dos serviços de apoio, reduzindo as restrições ao comércio transfronteiriço.Start-ups no setor logístico criaram plataformas inovadoras para ligar os mercados, reduzir os custos de transporte e aumentar a previsibilidade e a transparência dos serviços. Por exemplo, o Kobo360, baseado em Lagos, desenvolveu uma plataforma digital que utiliza o Sistema Global de Posicionamento (GPS) para ligar proprietários de mercadorias e 10 000 proprietários de camiões, condutores e destinatários de carga, reduzindo os custos da cadeia de abastecimento e assegurando a rastreabilidade dos produtos. Nas fintech, start-ups como a Asoko Insight, a Matchdeck e a Fraym estão a recolher e a aprimorar informações sobre empresas africanas para facilitar a avaliação de crédito. Propõem soluções de economia de tempo e de custos para conectar as empresas africanas com futuras partes interessadas e democratizar o acesso a ecossistemas de investimento, como plataformas para transações remotas.
Os atores tradicionais, especialmente no setor financeiro, estão também a inovar para responder à pressão concorrencial e aos desafios da pandemia de COVID-19. Uma pesquisa recente sugere que 80 % dos bancos africanos permitem que os clientes acedam a serviços bancários através de plataformas móveis ou da Internet e mais de 50 % fornecem carteiras de dinheiro móvel. Na sequência do choque da COVID-19, a maioria dos bancos inquiridos tenciona despender uma média de 5 milhões USD, ou 1.2 % dos seus ativos, na digitalização das suas ofertas e modelos de negócio até 2022 (BEI, 2021). Estão também a surgir aplicações de tecnologias digitais avançadas, como a blockchain. Por exemplo, o Ecobank usa a sua Plataforma Omni, e o Standard Bank tem uma plataforma blockchain alojada na Hyperledger Fabric para pagamentos em moeda estrangeira.
A aplicação de soluções inovadoras exige superar três grandes desafios para a adoção digital em todas as cadeias de abastecimento (consulte o Capítulo 2 de Dinâmicas do desenvolvimento em África 2021 para uma discussão detalhada):
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Em primeiro lugar, as barreiras regulamentares continuam a abrandar a adoção digital nestes setores. Por exemplo, apenas alguns países africanos (África do Sul, Camarões, Egito e Nigéria) permitem atualmente assinaturas eletrónicas e a autenticação eletrónica de documentos oficiais para transações financeiras (COMESA, 2020).
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Em segundo lugar, a interoperabilidade é fundamental para evitar a fixação em plataformas digitais não competitivas de tipo “o vencedor fica com tudo” e para facilitar a integração transfronteiriça dos fluxos financeiros, logísticos e comerciais. Em 2019, 23 países africanos tinham sistemas de dinheiro móvel interoperáveis, aumentando em 25 % os volumes de transferências entre pares e em 32 % os fluxos de e para contas bancárias (GSMA, 2019).
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Em terceiro lugar, o investimento em infraestruturas físicas continua a ser fundamental. A modernização das infraestruturas da administração aduaneira é fundamental para permitir aplicações digitais na logística (por exemplo, localização em tempo real) e no financiamento e pagamento de transações (por exemplo, contratos inteligentes). Do mesmo modo, os custos logísticos não diminuirão sem um investimento significativo na melhor gestão do armazenamento, a fim de garantir a qualidade dos bens e atenuar o efeito da volatilidade dos preços em toda a cadeia de abastecimento.
Os países africanos têm de respeitar o protocolo da ZCLCA sobre comércio eletrónico para acelerar a harmonização regulamentar a nível continental. O reforço do diálogo entre as autoridades reguladoras regionais, os bancos centrais, os intermediários financeiros digitais e o setor privado podem contribuir para a harmonização dos regulamentos. Em alguns domínios, como o financiamento ao comércio, os intermediários financeiros digitais podem desempenhar um papel estratégico na ligação de uma variedade de intervenientes com capital suficiente. No que se refere aos pagamentos, várias iniciativas estão a criar sistemas integrados regionais e continentais para reduzir o tempo e os custos dos pagamentos transfronteiriços (Caixa 2.2).
Os governos podem facilitar a coordenação entre os intervenientes no mercado para aumentar a interoperabilidade entre as diferentes plataformas. Desde 2014, os reguladores nacionais na Tanzânia têm apoiado os fornecedores de dinheiro móvel e os bancos locais a trabalhar em parceria para coordenar e oferecer serviços de pagamento interoperáveis entre pares. Em 2017, essas transações tinham chegado a 30 % do total de transações. O governo queniano e o Conselho de Cereais da África Oriental têm trabalhado juntos desde 2008 para criar um novo sistema de recebimento de depósitos, resultando em 18 operadores privados certificados além dos operadores detidos e operados pelo Estado. Em 2016, as receitas dos operadores participantes aumentaram entre 14 e 40 % (EAGC, 2016).
A digitalização das operações aduaneiras transfronteiriças pode ajudar os governos a reduzir os custos e a aumentar a transparência. O programa Sistema Automatizado de Dados Aduaneiros (ASYCUDA), adotado por 27 países africanos, ajudou a aumentar e garantir as receitas aduaneiras e a reduzir os prazos de desalfandegamento e os custos comerciais (CNUCED, 2020). Por exemplo, o corredor Abidjan-Ouagadougou na África Ocidental registou um aumento de 111 % nos documentos de trânsito processados entre 2019 e 2020. Outros países, como Marrocos, implementaram os seus próprios sistemas aduaneiros automatizados. O sistema de Marrocos contribuiu para um aumento de 20 % dos direitos aduaneiros cobrados e para uma aceleração dos procedimentos de exportação de 2-3 dias para 15-20 minutos (INSME, 2019).
Caixa 2.2. Escalonamento de sistemas de pagamentos regionais integrados
Copy link to Caixa 2.2. Escalonamento de sistemas de pagamentos regionais integradosAs transações transfronteiriças em África envolvem frequentemente múltiplos intermediários devido a diferentes regulamentações, moedas e fusos horários, o que leva a atrasos e custos adicionais. Em 2017, cerca de 80 % dos pagamentos transfronteiriços em África exigiam uma moeda de liquidação intermediária, normalmente o dólar dos Estados Unidos, o que resultava em elevadas taxas de transação que variavam de 3 % a 10 % (Swift, 2018).
A expansão de sistemas de pagamentos regionais integrados poderia simplificar os pagamentos transfronteiriços entre fornecedores. Surgiram múltiplos sistemas de pagamentos regionais para reduzir os custos e o tempo associados aos pagamentos transfronteiriços, diminuir os requisitos de liquidez dos bancos centrais e reforçar a supervisão das autoridades de regulamentação das transações transfronteiriças. A nível continental, a Associação dos Bancos Centrais Africanos, em parceria com a CUA e o Afreximbank, criou a Task Force para a Integração dos Pagamentos Inter-Regionais Africanos para desenvolver um quadro integrado para facilitar os pagamentos transfronteiriços (UA, 2019b). A experiência regional existente oferece oportunidades de aprendizagem para apoiar o desenvolvimento de um sistema continental de liquidação de pagamentos:
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Alargar os sistemas de pagamentos regionais a montantes mais pequenos, de modo a atingir uma escala suficiente e incluir mais pequenas e médias empresas. Os países mais pequenos poderão beneficiar com a utilização de infraestruturas de sistemas de pagamentos regionais para aumentar a escala dos pagamentos de retalho nacionais. Por exemplo, o Conselho Empresarial do Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA) visa desenvolver um sistema de pagamentos digitais regionais de baixo valor, a fim de reforçar a inclusão das empresas de menor dimensão e harmonizar a regulamentação, reunindo as autoridades reguladoras dos serviços financeiros regionais (COMESA, 2021).
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Evitar sobreposições e ineficiências nos mandatos nacionais e regionais. Na Comunidade Económica dos Estados da África Central, por exemplo, a autoridade reguladora regional do setor bancário estabelece regulamentos sobre serviços financeiros, enquanto outros regulamentos, como os relativos a proteção de dados e do consumidor, são estabelecidos a nível nacional e podem sobrepor-se ou entrar em conflito entre si. As iniciativas de reforço das capacidades poderão também fornecer orientações sobre a forma de criar sistemas bancários nacionais fiáveis.
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Oferecer sistemas transfronteiriços multimoedas. Na SADC, os valores de transação liquidados através do sistema de liquidação por bruto em tempo real cresceram ao longo do tempo, mas ainda representam apenas cerca de 1 % do valor total transferido. Tal reflete, em parte, a prevalência do dólar dos Estados Unidos para pagamentos transfronteiriços na região da SADC e os custos de gestão de liquidez relativamente elevados para os bancos participantes (BRI, 2020).
A cooperação no fornecimento de infraestruturas físicas e imateriais melhorará o fluxo de dados entre países africanos
Copy link to A cooperação no fornecimento de infraestruturas físicas e imateriais melhorará o fluxo de dados entre países africanosGarantir um fluxo seguro e contínuo de dados através de fronteiras é fundamental para construir cadeias de valor regionais no contexto da Indústria 4.0. Todas as fases da gestão moderna da cadeia de produção e de abastecimento dependem cada vez mais da produção, partilha e processamento de dados digitais (Capítulo 1). Além disso, ligar as economias digitais nacionais africanas através de um fluxo de dados transfronteiriço sem descontinuidades gerará economias de escala, atrairá investimentos em áreas críticas como os centros de dados e aumentará a competitividade.
As economias africanas precisam de continuar a construir infraestruturas físicas para o fluxo de dados transfronteiriço. Uma nova análise da Internet de banda larga internacional em África realizada para este relatório revela que a rede de Internet de África está cada vez mais orientada para outros parceiros africanos, embora a partir de uma base baixa. A banda larga intrarregional aumentou em África, passando de 11 % da banda larga total em 2015 para 16 % em 2020 (Figura 2.1). No entanto, esta estimativa está muito atrás de outras regiões do mundo, como a América Latina e Caraíbas (20 %), a Ásia (56 %) e a Europa (75 %). A redução desta lacuna é particularmente importante para conectar os países sem litoral ao cabo submarino e reduzir a latência do tráfego Internet intra-africano. Para isso, o PIDA tem um importante papel facilitador na atração de novos investimentos para ampliar a rede de fibra ótica terrestre e melhorar os pontos de intercâmbio da Internet entre os países africanos.
O desempenho de África na adaptação de regulamentos favoráveis ao fluxo de dados é limitado. Uma avaliação recente de 28 países africanos identifica uma regulamentação fraca em matéria de proteção de dados como uma das principais restrições ao comércio digital no continente (OCDE/CENUA, no prelo). Outro exercício sugere que os países africanos têm menos probabilidades de ter um modelo aberto para as transferências de dados nacionais e transfronteiriças do que outros países em desenvolvimento (Ferracane e van der Marel, 2021). A regulamentação dos dados abertos ajuda a facilitar o comércio de serviços e a aumentar a produtividade das empresas locais (Ferracane e Marel, 2018).
Os países africanos podem contar com uma variedade de mecanismos para permitir fluxos de dados transfronteiriços (Tabela 2.2):
-
Os países africanos têm estado ativos na utilização de disposições plurilaterais para harmonizar as abordagens dos fluxos de dados transfronteiriços. No entanto, os resultados revelaram-se desiguais. A ratificação, em 2014, da Convenção sobre Cibersegurança e Proteção de Dados Pessoais (Convenção de Malabo) estagnou, e a adoção da Lei Modelo da SADC de 2013 relativa à proteção de dados é limitada. Até ao momento, só está em vigor a Lei de Dados Pessoais da CEDEAO. A estratégia da União Africana de transformação digital para África (2020-2030), adotada em 2020, é o mais recente e ambicioso de todos os esforços pan-africanos para criar um mercado digital único no continente.
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A adoção de disposições relativas ao comércio eletrónico e aos dados continua a ser limitada entre os acordos comerciais em África; os parceiros fora de África tendem a ter prioridade. No futuro, a escassez de disposições relacionadas com o comércio eletrónico nos acordos comerciais pode ajudar a evitar a sobreposição de regras, que têm frequentemente limitado os esforços de integração para o comércio de bens em África.
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No que se refere aos mecanismos unilaterais, 32 dos 54 países africanos adotaram leis sobre privacidade de dados. Cerca de metade destas leis ainda não estão em vigor, ou não são plenamente eficazes, nem estão harmonizadas entre países, na maioria dos casos.
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Em termos de normas e iniciativas orientadas para a tecnologia, África adotou, em grande parte, normas globais no desenvolvimento de tecnologia e infraestrutura digitais.
Tabela 2.2. Mecanismos regulamentares que afetam os fluxos de dados transfronteiriços
Copy link to Tabela 2.2. Mecanismos regulamentares que afetam os fluxos de dados transfronteiriços
Tipo de mecanismos |
Exemplos relevantes para o contexto africano |
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Acordos multilaterais |
• Estratégia da União Africana de Transformação Digital para África (2020-2030) • Iniciativa política e regulamentar para a África Digital (PRIDA) (2018) • Convenção de Malabo (Convenção da União Africana sobre Cibersegurança e Proteção de Dados Pessoais) (2014) • Autoridade de Proteção de Dados da CEDEAO (Lei Suplementar A/SA. 01/01/10 sobre proteção de dados pessoais) (2010) • Lei Modelo da SADC sobre transações eletrónicas e comércio eletrónico (2013) • Convenção 108 (Convenção para a Proteção das Pessoas relativamente ao Tratamento Automatizado de Dados de Caráter Pessoal) (1981) |
Acordos comerciais e parcerias |
• Capítulo sobre comércio eletrónico no Acordo de Comércio Livre entre os Estados Unidos e Marrocos (2004) • Disposição sobre privacidade relacionada com o comércio eletrónico no Acordo de Parceria Económica UE-Estados da África Oriental e Austral (artigo 15.6) e no Acordo de Parceria Económica UE-Gana (artigo 68) • Acordo Comercial Regional UE-Argélia com uma disposição de cooperação relativa aos serviços de informação (artigo 60) e uma disposição-quadro nacional relativa à proteção de dados pessoais (artigo 45) • Proposta dos Estados Unidos no âmbito da negociação de um Acordo de Comércio Livre com o Quénia • Iniciativa de Declaração Conjunta da Organização Mundial do Comércio (seis países africanos) |
Mecanismo unilateral |
• Salvaguardas abertas, incluindo princípios de responsabilização ex post, contratos e decisões de adequação lideradas pelo setor privado • Salvaguardas pré-autorizadas, incluindo decisões de adequação pública e salvaguardas ex ante lideradas pelo setor público |
Normas e iniciativas orientadas para a tecnologia |
• Organização Internacional de Normalização/Comissão Eletrotécnica Internacional (ISO/IEC) 27701:2019 • Tecnologias de reforço da privacidade (por exemplo, criptografia, sandboxes) |
Fonte: Elaboração dos autores com base num quadro proposto por Casalini, López-González e Nemoto (2021), «Mapping commonalities in regulatory approaches to cross-border data transfers», OECD Trade Policy Papers.
A nível nacional, a criação de uma autoridade de proteção de dados (APD) permite a aplicação da legislação de proteção de dados adotada por vários mecanismos regulamentares. As APD podem facilitar a aplicação das leis de proteção de dados detetando, investigando e penalizando as violações. Podem também contribuir para aumentar a sensibilização para os direitos e obrigações em matéria de proteção de dados. Até à data, 15 países africanos criaram uma APD nacional para fazer cumprir a lei com diferentes níveis de capacidade (Greenleaf e Cottier, 2020; Ilori, 2020). Para garantir uma maior proteção de dados, é necessário que mais países criem APD independentes com quadros legislativos e de execução sólidos.
As Comunidades Económicas Regionais podem ajudar a transferir a legislação relativa à proteção de dados de uma preocupação nacional para uma preocupação a nível continental. Por exemplo, a rede africana de APD foi criada em 2016 para compartilhar práticas de privacidade, promover a cooperação entre APD africanas e apoiar países que podem não ter os recursos e a capacidade para APD eficazes. Atualmente, porém, apenas 11 países africanos fazem parte desta rede. As Comunidades Económicas Regionais devem alargar o âmbito dos acordos multilaterais existentes ao nível continental para melhorar a confiança dos clientes e a segurança jurídica dos investimentos. A título de exemplo, na Côte d’Ivoire, o tratamento de dados pessoais fora da região da CEDEAO exige autorização prévia, tal como é mandatado pela APD da Comunidade. Para tirar partido das oportunidades decorrentes da integração continental, esta abordagem tem de se tornar uma norma a nível africano.
A nível continental, os governos africanos precisam de tirar partido do processo da ZCLCA para adotar uma abordagem holística da transformação digital. A negociação acelerada dos protocolos sobre comércio eletrónico permite a discussão de outras questões transversais, como o comércio de serviços, a concorrência e os investimentos. Uma abordagem continental unificada, combinada com a execução da Estratégia da União Africana de Transformação Digital para África (2020-30), é também fundamental para dar aos países africanos uma vantagem mais forte na definição da governação global de dados (CUA/OCDE, 2021). Os governos africanos podem também preparar a ZCLCA para o futuro, incluindo compromissos explícitos em relação aos acordos internacionais de dados e aos serviços internacionais de roaming móvel. Estas questões estiveram em destaque em recentes acordos comerciais, como o acordo de comércio livre de 2021 entre a Islândia, o Listenstaine, a Noruega e o Reino Unido.
Políticas proativas podem reforçar as ligações industriais nas redes de produção regionais
Copy link to Políticas proativas podem reforçar as ligações industriais nas redes de produção regionaisO reforço das ligações entre trabalhadores, fornecedores e empresas multinacionais é vital para o desenvolvimento das redes de produção regionais. No entanto, as fracas capacidades produtivas e os obstáculos aos investimentos continuam a limitar o seu desenvolvimento (Capítulo 1).
A presente secção identifica as políticas destinadas a reforçar a participação nas CVR dos trabalhadores, produtores locais e empresas líderes. Em primeiro lugar, analisa as prioridades políticas para o desenvolvimento de competências, especialmente no contexto da transformação digital e das oportunidades nas cadeias de valor verde. Em segundo lugar, salienta a forma como os contratos públicos podem criar um impulso à procura para a modernização industrial entre os produtores regionais. Em terceiro lugar, a secção analisa a forma como a harmonização dos quadros de investimento nacionais e a facilitação do investimento entre as redes existentes de polos industriais podem ajudar a atrair empresas líderes.
As políticas sobre qualificações dependem das necessidades específicas e dos objetivos de melhoria em cada cadeia de valor
Copy link to As políticas sobre qualificações dependem das necessidades específicas e dos objetivos de melhoria em cada cadeia de valorUma mão de obra qualificada é fundamental para atrair o investimento e aumentar as ligações com as empresas líderes. O talento e as competências estão entre os quatro principais determinantes que orientam o investimento estrangeiro para as economias em desenvolvimento, a par da estabilidade política e macroeconómica e de quadros regulamentares sólidos (Banco Mundial, 2020). Muitas atividades a jusante, como a costura (têxteis) e a montagem (eletrónica), dependem de mão de obra manual abundante, bem como de supervisores, gestores e controladores de qualidade. A participação em atividades de maior valor acrescentado e intensivas em conhecimentos, incluindo a investigação e o desenvolvimento, o design industrial e os serviços pós-assistência, exige competências técnicas e outras competências avançadas. Até à data, o ensino e a formação técnica e profissional (EFTP) continuam a ser limitados e persistem discrepâncias significativas entre a educação dos jovens e as aspirações profissionais, o que dificulta as possibilidades de melhoria (Caixa 2.3).
As políticas de qualificação para o desenvolvimento da cadeia de valor devem ser adaptadas aos segmentos específicos das cadeias de valor e aos objetivos de modernização. A figura 2.2 resume diferentes abordagens para enfrentar os desafios de melhorar as qualificações nas cadeias de valor regionais e globais. A longo prazo, são necessárias reformas dos sistemas educativos, nomeadamente para melhorar a qualidade da educação e o seu alinhamento com as necessidades do mercado de trabalho (BAfD, 2020) e para incluir as populações desfavorecidas (por exemplo, mulheres e habitantes das zonas rurais). A curto e médio prazo, é crucial a concentração na melhoria das qualificações e na requalificação, de acordo com as necessidades setoriais e socioeconómicas de transformação.
O reforço da colaboração entre o setor privado, as instituições de formação e os decisores políticos a nível setorial pode ajudar a identificar as qualificações necessárias à força de trabalho e a conceber programas de formação adequados. No Ruanda, por exemplo, o governo criou o Conselho Nacional de Desenvolvimento da Exportação Agrícola para facilitar o diálogo e fornecer formação às partes interessadas privadas e cooperativas envolvidas na produção agrícola e pecuária para exportação (Banco Mundial, 2015). Na Guiné, a Sociedade Financeira Internacional e as empresas internacionais de mineração prestaram apoio a mais de 100 fornecedores locais no setor mineiro, fornecendo formação, capacidade de gestão e facilitando o acesso ao financiamento. Através do programa, estas empresas locais ganharam 9.1 milhões USD em contratos com as empresas líderes (Banco Mundial/KEDP, 2015). Os governos também podem promover a formação no local de trabalho para melhorar as capacidades dos trabalhadores. Atualmente, apenas 28 % das empresas africanas oferecem formação formal aos seus trabalhadores (Banco Mundial, 2020). Na África do Sul, a concessão de incentivos fiscais encorajou as empresas a oferecerem oportunidades de formação aos sul-africanos empregados e desempregados com idades compreendidas entre os 16 e os 35 anos (OCDE, 2017).
As políticas de qualificação precisam de se adaptar a novos requisitos decorrentes da transformação digital. Responder à crescente necessidade de competências digitais pode ajudar os trabalhadores a melhorar as suas capacidades em todos os níveis de uma cadeia de valor. Na cadeia de valor alimentar, por exemplo, o fornecimento de competências digitais básicas e competências fundamentais (literacia e numeracia) poderia ajudar os trabalhadores agrícolas a beneficiarem das novas tecnologias para melhorar o rendimento da produção e estabelecer ligações com os mercados locais (BAfD, 2020; Jeehye et al, 2020). Em 2021, a União Africana, a AUDA-NEPAD e a UNESCO lançaram a Iniciativa Pan-Africana para a Transformação Digital do EFTP e dos Sistemas de Desenvolvimento de Qualificações em África para reformar sistemas formais e informais de EFTP e adaptar-se aos crescentes requisitos de competências transversais e digitais (UNESCO, 2021).
Os decisores políticos podem também conceber políticas de qualificações para aproveitar novas oportunidades em cadeias de valor “verdes” e para ajudar setores existentes, como a agricultura ou a indústria transformadora, a adaptarem-se às alterações climáticas. Uma transição bem-sucedida para a sustentabilidade ambiental exigirá a melhoria de qualificações e a requalificação da mão de obra atual e futura. Por exemplo, a estratégia nacional do Senegal para a promoção do emprego verde (2015-20) apoiou o reforço das competências e capacidades nas indústrias verdes, o que resultou na criação de mais de 2 000 empregos, principalmente para os jovens e as mulheres (ONU, 2019). A nível regional, a CEDEAO adotou, em 2013, a Política de Eficiência Energética e a Política de Energias Renováveis, sublinhando fortemente o desenvolvimento de um quadro harmonizado para normas de qualificação e certificação de competências no setor das energias renováveis.
A mobilidade de qualificações intrarregionais deve ser encorajada de modo a atenuar a escassez de competências e a promover uma maior integração. A mobilidade de qualificações determina em grande medida a participação dos países africanos nas cadeias de valor globais de fabrico (Yameogo e Jammeh, 2019). As iniciativas existentes das Comunidades Económicas Regionais lançaram as bases para a eliminação das restrições à mobilidade intra-africana de mão de obra qualificada e para a redução dos desfasamentos no mercado de trabalho em todo o continente. Por exemplo, a Comunidade da África Oriental (CAO) implementou acordos setoriais de reconhecimento mútuo em matéria de contabilidade, arquitetura, engenharia e práticas veterinárias. Desde 2011, nove países da SADC começaram a harmonizar os seus quadros nacionais de qualificações, com o objetivo de melhorar a comparabilidade e o reconhecimento das competências profissionais (Saware, 2019).
Caixa 2.3. As aspirações dos jovens e a realidade dos empregos em África
Copy link to Caixa 2.3. As aspirações dos jovens e a realidade dos empregos em ÁfricaO fosso entre as aspirações dos jovens a um emprego e a realidade dos mercados de trabalho em África é grande (UA, 2018). Acelerar a criação de empregos de qualidade é crucial para absorver nos mercados de trabalho os 29 milhões de africanos que atingem a idade de trabalho todos os anos, de agora até 2030 (CUA/OCDE, 2019). Atualmente, a maior parte dos postos de trabalho disponíveis permanece na agricultura. A nível mundial, mais de um terço dos jovens das zonas rurais trabalham na agricultura, ao passo que a percentagem pode atingir níveis muito elevados nos países de baixo rendimento (por exemplo, 71 % no Uganda e 79 % em Madagáscar) (OCDE, 2018). Cerca de 39 % dos jovens entrevistados em dez países africanos trabalham na agricultura, em comparação com 14 % na indústria transformadora e na construção, 26 % no comércio e nos transportes e 21 % em todos os outros serviços. No entanto, a maioria dos empregos na agricultura, ocupados por mulheres a 54 % em 2019 (OIT, 2020), caracteriza-se por salários baixos e condições de trabalho precárias, sem contratos formais ou proteção social básica, tornando-os menos atrativos para os jovens.
Um estudo da OCDE sobre as aspirações profissionais mostra grandes lacunas entre o que os jovens africanos querem fazer e a realidade dos mercados de trabalho. Os dados de dez países – Benim, Congo, Egito, Libéria, Madagáscar, Malawi, Tanzânia, Togo, Uganda e Zâmbia – mostram que mais de 80 % dos jovens na escola desejam trabalhar em profissões altamente qualificadas, enquanto na realidade apenas 8 % conseguem encontrar esses empregos. A segurança do emprego foi considerada o motor mais importante da satisfação profissional, ainda mais do que os rendimentos. Na verdade, 74 % dos jovens querem um emprego no setor público por causa da segurança do emprego, mas apenas 12 % dos jovens empregados se encontram nesse setor. O trabalho relacionado com a agricultura ou os empregos com qualificações médias na indústria transformadora são os menos atrativos para os jovens africanos.
Mesmo que as condições do mercado de trabalho melhorassem, o grande fosso entre as aspirações e a realidade dos mercados de trabalho é suscetível de persistir devido ao elevado nível de desequilíbrio de qualificações. De acordo com medidas subjetivas, cerca de 55 % dos jovens trabalhadores africanos pensam que a sua educação é relevante para o seu emprego, enquanto os outros se sentem sobrequalificados ou subqualificados, com a subqualificação a afetar mais os jovens em países de baixo rendimento. Ao utilizar uma abordagem normativa – comparando as qualificações reais com as qualificações exigidas para um emprego – apenas 29 % dos jovens trabalhadores são efetivamente qualificados para o trabalho que realizam.
A insatisfação profissional a longo prazo pode conduzir a agitação social, e são urgentemente necessárias políticas para combater o desalinhamento entre as preferências de emprego dos jovens e as oportunidades de emprego. Recomenda-se uma abordagem dupla: i) ajudar os jovens a moldar as suas aspirações de carreira à realidade e suscetíveis de se adaptarem ao mundo em que irão entrar; e ii) melhorar a qualidade do emprego, tendo devidamente em conta as condições de emprego que interessam aos jovens, em especial na agricultura. A agricultura é o principal fornecedor de empregos para a juventude rural em África e continuará a sê-lo durante algum tempo. Tornar a agricultura e as profissões médias qualificadas conexas na transformação alimentar ou nos serviços alimentares mais atrativas para os jovens significa garantir a segurança do emprego, proporcionar formação para melhorar as competências, melhorar o rendimento dos agricultores e modernizar as práticas agrícolas.
Fonte: Lorenceau, Rim et Savitki (2021), «Aspirations des jeunes et réalité de l’emploi en Afrique», Documents d’orientation de l’OCDE sur le développement, n° 38, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/6a14eee9-fr.
Modernizar e alargar os programas de contratos públicos ajudará os produtores regionais a melhorar a sua capacidade industrial
Copy link to Modernizar e alargar os programas de contratos públicos ajudará os produtores regionais a melhorar a sua capacidade industrialOs contratos públicos podem criar uma forte pressão da procura para os produtores locais. Entre 2015 e 2019, os contratos públicos – a compra de bens e serviços por governos e empresas estatais – representaram uma média anual de 8.7 % do PIB em África, em comparação com 8 % na Ásia em desenvolvimento e 6 % na América Latina e Caraíbas (Figura 2.3). Através de instrumentos como as políticas de “compra nacional”, as contrapartidas para grupos-alvo (como as PME) e os requisitos de transferência de tecnologia para proponentes estrangeiros, a contratação pública pode criar emprego, promover a modernização das empresas e desenvolver cadeias de abastecimento regionais (UNIDO, 2017). As conclusões de um inquérito realizado em 19 países africanos sugerem que um aumento de 10 pontos percentuais na percentagem da produção total vendida a um governo está associado a uma produtividade 4 % mais elevada (Hoekman e Sanfilippo, 2020). Dada a importância dos contratos públicos para o desenvolvimento industrial, a União Africana apelou recentemente aos Estados-membros para que atribuam pelo menos 30 % dos contratos públicos ao setor privado africano, incluindo PME e empresas de mulheres e jovens (UA, 2021).
A atual utilização dos contratos públicos em África suscita preocupações quanto à sua eficiência e inclusão. Cálculos baseados nos Enterprise Surveys do Banco Mundial mostram que 32 % das empresas africanas recorrem a subornos para garantir contratos governamentais. Sem um processo de concurso competitivo e transparente, as políticas de contratos preferenciais criam dependências e ineficiências em toda a cadeia de abastecimento, reduzem a disponibilidade de fatores de produção e de trabalhadores qualificados a preços competitivos e dissuadem o investimento estrangeiro. Além disso, muitos produtores, especialmente as pequenas e médias empresas, não podem celebrar contratos públicos devido à lentidão do processo de pagamento, aos atrasos governamentais e à falta de informação, conhecimentos e competências adequadas para adjudicar com êxito contratos públicos. Em média, os produtores africanos têm de esperar seis meses para receber pagamentos de contratos públicos (Banco Mundial, 2016).
O investimento em sistemas de contratação pública eletrónica pode melhorar os pagamentos atempados e transparentes dos fornecedores. A utilização de sistemas eletrónicos de contratação pública é inferior a 25 % para a maioria dos países africanos, contra mais de 75 % para os Estados-membros da União Europeia e para a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Hoekman et al., 2021). Em Cabo Verde, a reforma institucional e o novo sistema de contratação pública eletrónica incentivaram a participação das PME nos processos de licitação, passando de apenas 15 empresas em 2012 para 444 em 2015, e estimularam o crescimento médio das receitas de vendas em 43 % (Banco Mundial, 2016).
No contexto da ZCLCA, os governos poderiam alargar os atuais sistemas de contratos públicos para promover a participação das empresas regionais. Os critérios de elegibilidade para o tratamento preferencial podem ser alargados para além dos produtores nacionais definidos em sentido estrito, a fim de abranger os intervenientes regionais. Mais recentemente, as partes interessadas do setor privado da CAO apelaram a uma abordagem “Comprar na África Oriental, Construir a África Oriental” (“Buy East Africa, Build East Africa”) para desenvolver cadeias de abastecimento regionais, nomeadamente no setor farmacêutico (TMEA, 2021). A harmonização das normas aplicáveis aos produtos e os acordos de reconhecimento mútuo reduzirão também os custos de participação dos fornecedores africanos nos mercados regionais (Caixa 2.4)
Caixa 2.4. Harmonização e reforço dos sistemas de normas de qualidade em África
Copy link to Caixa 2.4. Harmonização e reforço dos sistemas de normas de qualidade em ÁfricaA harmonização das normas de qualidade torna mais barata para as pequenas empresas e empresas informais a sua obtenção e manutenção. Por exemplo, os produtos na CAO certificados com base em normas harmonizadas evitam o custo de testes repetidos. Deste modo, o custo do cumprimento de múltiplas normas de qualidade passa de uma média de 205 USD para quase zero e reduz o tempo de apuramento para a avaliação da conformidade de 38 dias para 0.5 dias para os produtos certificados com marcas de certificação de qualidade notificadas (TMEA, 2019).
Para tirar partido dos benefícios da ZCLCA, os governos podem harmonizar as normas regionais e acelerar a aplicação dos acordos de reconhecimento mútuo. De 1 991 produtos com vantagem comparativa no continente, três quartos não têm normas de qualidade harmonizadas a nível da Comunidade Económica Regional. Uma vez que não é possível harmonizar de uma só vez todas as normas de qualidade, o processo de harmonização das normas de qualidade a nível continental deve dar prioridade a produtos que tenham uma vantagem comparativa em pelo menos duas CER e para os quais já existam normas de qualidade em pelo menos duas dessas CER (UNECA, 2020).
Ao mesmo tempo, os países africanos precisam de reforçar as suas infraestruturas de normas de qualidade. Vinte e seis países africanos não dispõem de infraestruturas suficientes em matéria de normas de qualidade, como a acreditação, os sistemas de metrologia e os organismos nacionais de normalização para satisfazer as exigências de avaliação da conformidade e de controlo da qualidade. Em todo o continente, a definição clara das responsabilidades nas funções de regulamentação e verificação entre as agências governamentais pode reduzir conflitos de interesses e obstáculos para a necessária conformidade (PAQI, 2020). A partilha transfronteiriça de competências técnicas poderá ajudar a colmatar as lacunas existentes nas capacidades de execução nos países africanos e acelerar os esforços de coordenação. Por exemplo, o COMESA criou associações regionais de autoridades reguladoras para facilitar a harmonização política e regulamentar, bem como para promover o reforço das capacidades e a partilha de informações entre os seus membros.
Além disso, a harmonização da regulamentação relativa aos contratos públicos pode reduzir os custos da participação transfronteiriça e reforçar a qualidade e a integridade dos contratos públicos. Por exemplo, o COMESA adotou um quadro comum relativo aos contratos públicos para reformar os sistemas nacionais (BAfD, 2018). Do mesmo modo, o projeto regional de reforço dos contratos públicos da UEMOA visa harmonizar a regulamentação relativa aos contratos públicos, a fim de atenuar os obstáculos à participação regional. Esta iniciativa também levou à criação de um Observatório Regional dos Contratos Públicos para reforçar os mecanismos de supervisão e a transparência em toda a África Ocidental (Nam, 2019).
Os esforços regionais para atrair investimentos das principais empresas podem beneficiar de um melhor acompanhamento e de priorização
Copy link to Os esforços regionais para atrair investimentos das principais empresas podem beneficiar de um melhor acompanhamento e de priorizaçãoA institucionalização de uma forte estrutura de acompanhamento é vital para acelerar a adoção interna do Código Pan-Africano de Investimento
Copy link to A institucionalização de uma forte estrutura de acompanhamento é vital para acelerar a adoção interna do Código Pan-Africano de InvestimentoAlgumas empresas africanas expandiram a sua presença geográfica para além do seu mercado interno, mas continuam a concentrar-se em alguns setores e países. A tabela 2.3 apresenta alguns exemplos dessas empresas em África. Muitas têm uma forte orientação continental, com as filiais africanas a representarem mais de metade das suas filiais no exterior. No entanto, os investimentos intra-africanos permanecem concentrados em alguns setores – finanças, telecomunicações, energia e mineração, e retalho. A África do Sul engloba a maior parte das empresas que investem noutros países africanos, refletindo a sua posição como um nó central nas redes de produção regionais da África Austral (Qiang, Liu e Steenbergen, 2021).
Tabela 2.3. Desempenho e presença geográfica de determinadas empresas multinacionais africanas, 2019
Copy link to Tabela 2.3. Desempenho e presença geográfica de determinadas empresas multinacionais africanas, 2019
País de origem |
Nome |
Setor de atividade |
Filiais africanas* |
Número de países africanos |
Número de empregados |
Receitas operacionais (em USD) |
---|---|---|---|---|---|---|
África do Sul |
Shoprite Holdings |
Retalho |
56 % |
16 |
142 602 |
12 234 902 |
África do Sul |
MTN Group |
Telecomunicações |
50 % |
18 |
19 295 |
12 219 844 |
Egito |
El Sewedy Electric company |
Energia |
9 % |
7 |
14 463 |
2 993 803 |
Nigéria |
Dangote Cement |
Mineração, cimento, agroalimentar, embalagens, petróleo e gás |
84 % |
24 |
15 478 |
2 726 903 |
Marrocos |
Attijariwafa Bank |
Finanças/banca |
69 % |
15 |
20 583 |
2 677 403 |
Nigéria |
Zenith Bank |
Finanças/banca |
50 % |
3 |
7 544 |
2 410 595 |
Maurícias |
IBL |
Múltiplos (por exemplo: finanças, logística, retalho) |
11 % |
8 |
25 205 |
1 435 793 |
Togo |
Ecobank |
Finanças/banca |
88 % |
33 |
14 023 |
946 449 |
Quénia |
KCB Group |
Finanças/banca |
30 % |
5 |
7 525 |
907 226 |
Camarões |
Afriland First Bank |
Finanças/banca |
82 % |
8 |
n/d |
883 205 |
Gabão |
BGFI Holding Corporation |
Finanças/banca |
50 % |
8 |
n/d |
140 138 |
Nota: * Percentagem de filiais localizadas em África; n/d = não disponível.
Fonte: Compilação dos autores com base em dados de Bureau van Dijk (2021), Orbis | Company Information across the Globe (base de dados), https://orbis.bvdinfo.com/version-20211118/orbis/1/Companies/Search.
Os países precisam de tirar partido do Código Pan-Africano de Investimento e da ZCLCA para combater as barreiras regulamentares ao investimento em África (Capítulo 1). A investigação sobre as opções de localização do investimento direto estrangeiro (IDE) dos principais operadores de redes móveis africanos conclui que a maioria dos operadores não se expande em mercados geograficamente próximos; em vez disso, as suas decisões de investimento dependem dos países africanos com melhores quadros institucionais (Dike e Rose, 2019). Embora as negociações relativas ao Protocolo sobre Investimentos da ZCLCA ainda estivessem em curso no momento da redação (novembro de 2021), indicações precoces sugerem que a adoção do Protocolo e do Código Pan-Africano de Investimento (acordado em 2017) ajudará a facilitar o investimento em África. Os acordos de investimento podem reduzir os riscos percetíveis para os investidores, melhorando a transparência e a previsibilidade na elaboração e execução das políticas, alinhando a regulamentação nacional com os quadros jurídicos internacionais, nomeadamente através da aplicação de quadros harmonizados em todo o continente, e facilitando o acesso aos mecanismos de resolução de litígios.
A experiência regional existente na coordenação dos quadros de investimento em África oferece lições importantes para apoiar a execução de iniciativas continentais. Em 2020, a CEDEAO lançou a iniciativa Ambiente Melhorado de Investimento e Negócios na África Ocidental para identificar barreiras ao investimento e implementar e acompanhar os resultados das reformas no setor privado através do Painel de Avaliação do Ambiente do Investimento da CEDEAO (CEDEAO, 2020). Em 2016, a SADC também desenvolveu o Plano de Ação Regional sobre Investimentos, a fim de facilitar a coordenação regional e explorar economias de escala na melhoria dos quadros e políticas de investimento em todos os seus Estados-membros.
A criação de estruturas de acompanhamento pode ajudar a acompanhar os progressos e a assegurar a adoção interna de reformas acordadas a nível regional, tal como fez a SADC. O Secretariado da SADC, em colaboração com a OCDE, desenvolveu um conjunto de indicadores para aferir e acompanhar os progressos realizados pelos Estados-membros na aplicação do Quadro de Política de Investimento da SADC (Tabela 2.4). O Secretariado da SADC deverá assumir a responsabilidade central pelo acompanhamento, delegando simultaneamente funções específicas de informação em pontos de contacto nacionais específicos em cada Estado-membro.
Tabela 2.4. Indicadores selecionados para acompanhar os progressos do Quadro de Política de Investimento da SADC
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Domínios de ação |
Indicadores de aferição de desempenho e de acompanhamento |
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1. Criação de um ambiente de investimento transparente e coerente |
- Transparência das políticas governamentais - Qualidade da regulamentação - Qualidade dos serviços públicos online - Número total de dias necessários para iniciar uma empresa |
2. Garantir o acesso ao mercado e a concorrência |
- Abertura ao investimento estrangeiro (de jure e baseado na perceção) - Eficácia de uma política anti monopólio - Efeito da tributação sobre os incentivos ao investimento |
3. Apoio a investimentos empresariais responsáveis e inclusivos para o desenvolvimento |
- Número de postos de trabalho criados por unidade de despesa de capital investido - Empresas nacionais e estrangeiras que oferecem programas de formação formal - Empresas nacionais e estrangeiras com trabalhadoras a tempo inteiro permanentes na indústria transformadora - Percentagem de PME envolvidas em atividades de exportação direta |
4. Garantir a segurança dos investimentos e proteger os direitos dos investidores |
- Estabilidade política e ausência de violência - Qualidade do índice de gestão dos solos - Proteção da propriedade intelectual - Ausência de corrupção |
5. Promover a cooperação regional e internacional |
- Posições de investimentos diretos regionais e intrarregionais - Qualidade da infraestrutura de conectividade - Eficiência dos procedimentos alfandegários - Índice de desenvolvimento das TIC |
Fonte: Elaboração dos autores com base na tabela A.2 em OCDE/SADC (2017), Role of Monitoring for Implementation: Advancing investment Policy Reforms in the Southern African Development Community.
A cooperação internacional pode também apoiar a aplicação do Protocolo sobre Investimentos da ZCLCA e incentivar o investimento em África. Atualmente, existem numerosas iniciativas internacionais para promover os investimentos em África (Anexo 2.A2). A multiplicidade de plataformas exige também a coordenação e a partilha de experiências entre os países africanos e os seus parceiros. Por exemplo, a Plataforma da CUA-Centro de Desenvolvimento da OCDE sobre Investimentos e Transformação Produtiva visa facilitar esta coordenação e partilhar experiências entre os países africanos e os seus parceiros de desenvolvimento.
Os decisores políticos devem facilitar o investimento e desenvolver infraestruturas nas redes existentes de polos industriais
Copy link to Os decisores políticos devem facilitar o investimento e desenvolver infraestruturas nas redes existentes de polos industriaisAs redes de polos industriais existentes em África constituem um ponto de entrada crítico para facilitar o desenvolvimento da cadeia de valor. De acordo com estimativas da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, o número de zonas económicas especiais (ZEE) em África cresceu de cerca de 20 em 1990 para 237 em 2020 abrangendo 38 países (CNUCED, 2021). As políticas de polos de empresas permitem aos governos concentrar o investimento público num único local e resolver os estrangulamentos críticos à competitividade local. A maior densidade das empresas, dos fornecedores de serviços e das instituições de investigação pode facilitar as transferências de tecnologia e a inovação.
As estratégias de desenvolvimento dos polos industriais variam consoante os contextos, em função da disponibilidade de fatores de produção, do acesso ao mercado, da localização estratégica e da capacidade local de absorção. Por exemplo, a Etiópia baseou-se nos baixos custos laborais e nos incentivos fiscais para atrair empresas líder como Decathlon, H&M, Primark e Tesco para integrar redes globais de produção têxtil. Em Marrocos e na África do Sul, os parques eco-industriais emergentes, como a central solar de Ouarzazate e a exploração eólica de Cookhouse, ajudam a atrair investimentos verdes, a integrar empresas em cadeias de valor sustentáveis e a alcançar metas sociais, ambientais e económicas. No Egito, o “Eco-Leather Park” de Robbiki tem como objetivo desenvolver a indústria local do couro e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental das fábricas de curtumes locais. Para o efeito, o polo abriu um Centro de Transferência de Tecnologia do Couro, envolvendo empresas locais e estrangeiras, para promover a adoção e a melhoria de tecnologias verdes por parte das fábricas locais (CNUCED, 2021).
A qualidade das infraestruturas públicas é fundamental para o êxito das ZEE. A nossa análise da intensidade da luminosidade noturna em 127 polos industriais africanos – ZEE, zonas de exportação e parques industriais – mostra o crescimento das atividades económicas baseadas em polos, que quase duplicaram no período 2012-19 (Caixa 2.5). Embora todos os polos tenham sofrido uma queda na intensidade da luminosidade noturna em 2020, os polos que beneficiaram de um melhor acesso à infraestrutura de comunicação – localizados a menos de 10 quilómetros de uma rede de backbone de banda larga – sofreram uma queda menor no início do choque provocado pela pandemia de COVID-19 do que os polos não conectados (Figura 2.4). Esta proximidade a uma rede de banda larga pode servir como indicador do acesso a outras infraestruturas críticas, como a eletricidade, necessárias ao desenvolvimento industrial e à competitividade.
Caixa 2.5. Polos industriais em África durante a pandemia de COVID-19
Copy link to Caixa 2.5. Polos industriais em África durante a pandemia de COVID-19Os polos industriais exibiam níveis elevados de atividade antes do abrandamento dos investimentos diretos estrangeiros em 2019. Entre 2012 e o início de 2019, a intensidade da luminosidade noturna quase duplicou a nível continental. A atividade e o desenvolvimento dinâmico dos polos que tal implica foram principalmente impulsionados pelo desenvolvimento industrial inicial das economias africanas. África do Sul, Egito, Marrocos, Nigéria e Quénia acolheram mais de metade (73) dos 127 polos que operam em 31 países.
A desaceleração da economia causada pela pandemia de COVID-19 interrompeu a atividade dos polos até ao final de 2020 (Figura 2.5). A procura mundial mais fraca, as restrições à mobilidade e as restrições de produção reduziram o nível de atividade nos polos relativamente a 2019, resultando num declínio constante da luminosidade, com a maior queda (-5.8 %) registada no segundo trimestre de 2020, em simultâneo com a aplicação de restrições mais rigorosas por causa da COVID-19 (pontuação média de 71 numa escala de 100). No último trimestre de 2020, a luminosidade nos polos registou uma recuperação de 5.7 %, à medida que as restrições eram progressivamente levantadas.
O investimento em infraestruturas de ligação entre estes polos industriais pode ajudar a facilitar as redes de produção regionais. Nos últimos anos, surgiram vários corredores regionais, como o Corredor LAPSSET (Quénia-Etiópia), o Corredor Central (Dar es Salaam-RD Congo), o Corredor de Desenvolvimento de Maputo (Moçambique-África do Sul) e o Corredor da Baía de Walvis (cinco países da SADC). No Norte de África, o desenvolvimento de infraestruturas rodoviárias facilitou o surgimento e a atratividade de empresas líderes estrangeiras por parques tecnológicos, como o Smart Villages, entre o Cairo e Alexandria, e a zona de alta tecnologia de El Ghazala, entre Tunes e Bizerte. Da mesma forma, na África Ocidental, os investimentos públicos em redes rodoviárias para ligar Abidjan ao corredor Lagos-Acra na África Ocidental aumentaram significativamente as entradas de IDE (ONU-Habitat, 2018).
As agências de promoção do investimento (API) podem facilitar ainda mais o investimento das empresas líderes em segmentos-chave da cadeia de valor. As API funcionam como interlocutoras entre os governos e as empresas estrangeiras, tal como no domínio do cumprimento fiscal (Caixa 2.6). Podem igualmente prestar diferentes tipos de serviços, tais como a correspondência de interesses, a assistência financeira (crédito, seguros), a informação sobre o mercado, a marca comercial local e a assistência aos investidores. As experiências passadas dos países em desenvolvimento mostram que os governos devem concentrar-se nos seguintes pontos ao estabelecerem as API: i) assegurar um apoio governamental de alto nível; ii) estabelecer objetivos claros para a promoção dos investimentos; iii) consultar as partes interessadas locais, públicas e privadas, a fim de assegurar o alinhamento estratégico; iv) facilitar a colaboração com outras instituições e fundos de investimento; e v) disponibilizar recursos financeiros suficientes e sustentados (Banco Mundial, 2020).
Caixa 2.6. A perceção dos funcionários tributários africanos sobre a conformidade fiscal das empresas multinacionais
Copy link to Caixa 2.6. A perceção dos funcionários tributários africanos sobre a conformidade fiscal das empresas multinacionaisA tributação tornou-se uma questão cada vez mais importante e, nos últimos anos, surgiram vários novos princípios e normas de divulgação de informação para ajudar a demonstrar e acompanhar o comportamento das empresas em matéria fiscal. Alguns destes princípios referem-se à forma como as empresas interagem com as autoridades tributárias, dificultando a avaliação do cumprimento ou do impacto de tais iniciativas, no que se refere a interações confidenciais.
Para ajudar a resolver esta questão, a OCDE realizou recentemente um inquérito de perceção junto de mais de 1 240 funcionários governamentais (a maioria dos quais inspetores tributários) que trabalham em administrações fiscais em 139 países (OCDE, 2021). O inquérito incluiu 206 respostas de 34 países africanos. Pretendia-se obter a perceção dos funcionários tributários relativamente ao comportamento fiscal das multinacionais e de outras grandes empresas face aos princípios voluntários desenvolvidos pela Business at the OCDE (a representação empresarial na OCDE) (BIAC, 2013). O inquérito destaca várias áreas para reforçar a conformidade fiscal em África, como a resposta a pedidos de informações e a solução de litígios fiscais. Em parceria com o Fórum Africano de Administração Fiscal, a OCDE organizou então uma mesa redonda virtual, em abril de 2021, que reuniu funcionários tributários e empresas africanas para discutir esses resultados e possíveis soluções para os desafios identificados.
De um modo mais geral, a criação de confiança e a facilitação da comunicação entre as autoridades tributárias e as empresas estão no cerne de muitas soluções propostas. Apenas 37 % dos funcionários tributários em África afirmam que a maioria das empresas multinacionais não são abertas e transparentes. Da mesma forma, 34 % dos funcionários tributários africanos não confiam na informação que recebem da maioria das empresas multinacionais. Para melhorar estas relações, as administrações fiscais podem facilitar às empresas o cumprimento da legislação fiscal, melhorando a clareza e a especificidade das exigências feitas às empresas, ao passo que as empresas precisam de garantir a disponibilização de informações, inclusive na língua oficial local. Uma forma de melhorar as relações é a utilização de orientações para lidar com as empresas multinacionais e outras grandes empresas. O inquérito sugere uma correlação positiva entre os inquiridos, identificando a existência de procedimentos e orientações específicas para lidar com as empresas multinacionais e evidenciando níveis mais elevados de confiança nas empresas multinacionais.
Fonte: OCDE (2021), Tax Co-operation for Development: Progress Report in the COVID-19 Era.
Anexo 2.A1. Exemplos de cadeias de valor continentais e regionais promissoras em África
Copy link to Anexo 2.A1. Exemplos de cadeias de valor continentais e regionais promissoras em ÁfricaTabela 2.A1.1. Visão geral das cadeias de valor continentais e regionais promissoras em África
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Cadeias de valor continentais |
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Cadeia de valor |
Forças |
Fraquezas |
Oportunidades |
Ameaças |
Agroindústria |
Disponibilidade de mão de obra Vantagem competitiva nas principais culturas agrícolas (isto é, caju, café, cacau) 60 % das terras aráveis não cultivadas do mundo em África Aumento da procura de alimentos impulsionado pelo crescimento da população e pela urbanização |
Cadeia fragmentada que conduz a uma subida de 20 a 50 % do preço de importação nos principais fatores de produção agrícola Apenas 10 % das terras aráveis do continente estão registadas Valor acrescentado da transformação dos produtos agrícolas inferior a 50 % |
Elevado potencial de exportação de produtos transformados (por exemplo, frutas e frutos de casca rija) A ZCLCA possivelmente irá aumentar o comércio intra-africano agrícola em 20 a 35 % Alterações dos hábitos alimentares Potencial para maior produtividade e mais empregos fora da exploração agrícola em áreas como o marketing e as vendas Agricultura sustentável para cadeias de valor agrícolas rentáveis Atrair fluxos de investimento do setor privado |
Secas recorrentes, catástrofes causadas pelo clima e desertificação mais rápida Redução da participação dos jovens no trabalho na agricultura Utilização limitada da agricultura de conservação Escassez de qualificações e tecnologias Falta de financiamento e de mecanismos de redução dos riscos Gestão insustentável dos solos |
Farmacêutica |
Forte dinamismo político (por exemplo, o plano de produção farmacêutica da AUDA para África; o plano empresarial CUA/UNIDO; Agência Africana de Medicamentos da UA) Iniciativas nacionais para promover o desenvolvimento da indústria transformadora (por exemplo, Etiópia, Zimbabwe) Mecanismos de cooperação internacional (por exemplo, a resolução da OMS de 2021, patrocinada pelos 54 países africanos) |
95 % dos medicamentos importados e 3 % dos medicamentos globais produzidos localmente Um setor local subdesenvolvido com 375 empresas farmacêuticas concentradas em 12 países Ausência de políticas de educação e de qualificações que promovam a I&D no setor farmacêutico |
O setor da saúde e do bem-estar em África está avaliado em 259 mil milhões USD até 2030 Mais de 16 milhões de empregos potenciais a criar até 2030 CPPM (Centralized Pooled Procurement Mechanism) ancorado na ZCLCA para encorajar fabricantes globais a construir fábricas em África |
Doenças endémicas (ou seja, em África ocorrem 90 % das mortes por malária, a nível mundial, e 70 % da população vive com VIH/SIDA) Em África registam-se 42 % dos casos mundiais de medicamentos contrafeitos |
Automóvel |
Até sete postos de trabalho adicionais criados por cada posto de trabalho na indústria automóvel Aumento da procura (por exemplo, em 2019, a propriedade automóvel do Quénia, com 31.5/1 000 pessoas, ultrapassou o crescimento populacional) Produção intermediária existente (por exemplo, cablagem no Botswana, couros e peles para assentos no Lesoto) |
A África continua a ser um mercado automóvel de retalho O modelo dominante de semi-knock down (SKD) reduz o desenvolvimento da cadeia de valor Acesso limitado a financiamentos a preços acessíveis que dificultam a propriedade automóvel |
Produção de peças no mercado pós-venda que oferece uma oportunidade de industrialização Avanço da tecnologia dos elétricos de duas rodas para fabricar veículos elétricos Inovação tecnológica e start-ups (por exemplo, a Moove utiliza uma tecnologia alternativa de pontuação de crédito que oferece melhores condições aos mutuários) |
Veículos usados importados com potencial de montagem limitado que dificulta a integração regional Pressão protecionista a favor das pequenas indústrias nacionais |
Cadeias de valor regionais |
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Cadeia de valor |
Forças |
Fraquezas |
Oportunidades |
Ameaças |
África Central |
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Coltan |
Possíveis substitutos limitados Compromisso dos países da África Central com a Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extrativas |
Falta de conhecimento técnico e de inovação Informação geológica pública limitada Processo de concurso não transparente |
Serviços de mineração de pequena escala que promovem o desenvolvimento social Necessidade de rastreabilidade, certificação e inovações logísticas Melhoria do controlo e harmonização dos sistemas de dados que limitam o comércio ilícito |
Instabilidade política e comércio ilícito de coltan Instituições incapazes de garantir o cumprimento da regulamentação fiscal Risco de concorrência fiscal intrarregional |
Madeira |
Principal fonte de emprego formal (por exemplo, no Gabão) A cobertura florestal da África Central representa 7 % das florestas mundiais |
Comércio limitado de bens transformados retarda a participação em mercados internacionais Gestão ineficaz das florestas na Bacia do Congo devido à incoerência política Falta de competências em ciência, tecnologia, engenharia e matemática |
Certificação para a exploração sustentável e renovável Aumento da procura no mercado do mobiliário Custos moderados no estabelecimento de fábricas de transformação e preços estáveis dos produtos de madeira |
Aumento recente da taxa de desflorestação Exploração ilegal generalizada e corrupção |
Cobre |
O cinto metalogenético de cobre-cobalto da África Central constitui a maior e de melhor qualidade área sedimentar do mundo Aumento do consumo de cobre refinado, impulsionado pelas indústrias de construção e automóvel chinesas |
Lucros escassos do cobre semitransformado, uma vez que as empresas mineiras captam a maior parte dos rendimentos Elevado custo das exportações Gestão ineficiente da cobrança de impostos que conduz a perdas de receitas |
Aumento da procura por eletrificação, tecnologias verdes e smartphones Uma taxa de crescimento anual composta de 4.5 % prevista para 2024 para a produção sustentada de cobre em África Redução do preço local do cobre devido ao desenvolvimento da capacidade tecnológica |
Regulamentação laboral fraca Corrupção e má gestão dos recursos que limitam a modernização social Poluição da terra, do ar e degradação da água causada pelo ácido sulfúrico que afeta os residentes perto das minas |
África Oriental |
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Café |
Condições ideais de cultivo para as variedades de café Principal produto de exportação e importante fonte de divisas |
Preços de mercado e estrutura distorcidos por poucos compradores Diminuição da qualidade do café dado o desaparecimento de cultivares de elevada qualidade Elevado custo de produção |
Maior poder de negociação global e preços com colaboração regional Aumento da procura interna compensando a volatilidade do mercado de exportação e a assimetria da informação Mercados de nicho para denominações de origem e geográficas de café (por exemplo, terroir, origem única e café orgânico) |
Alterações climáticas e condições meteorológicas extremas, insetos e doenças Degradação ambiental relacionada com a produção |
Turismo |
Forte setor criador de emprego na região Impulsionador do desenvolvimento em regiões rurais remotas e menos desenvolvidas Reforço do turismo regional e da integração (por exemplo, visto de entrada comum, critérios normalizados para os hotéis) graças às medidas da CAO |
Operações abaixo da capacidade (ou seja, a África Oriental capta menos de 0.5 % das receitas do turismo mundial) Regulamentação restritiva em matéria de viagens aéreas que prejudica as tarifas concorrenciais Disparidades regionais na qualidade das estradas e infraestruturas aéreas |
Trabalho à distância (por exemplo, a Maurícias lançou em 2020 um visto nómada digital gratuito) Turismo para eventos e exposições de grande escala Atualização das empresas através da certificação (por exemplo, IATA), permitindo parcerias acrescidas com empresas internacionais |
Vulnerabilidade a choques externos (ou seja, pandemias, crises financeiras) Segmento intermédio subdesenvolvido (ou seja, empresas de turismo locais) Desigualdade de benefícios (no Quénia, os operadores turísticos e as empresas de transportes globais captam 40 a 50 % das despesas com turismo) |
Floricultura |
Emprego estável devido à produção anual, principalmente para as mulheres (por exemplo, em 2014, 75 % dos trabalhadores da floricultura no Quénia eram mulheres) Vantagem climática e geográfica Custos de produção baixos e procedimentos de exportação simples |
Taxas de juro elevadas para empréstimos aos agricultores Fiabilidade desigual da logística que compromete a qualidade das flores Sistemas prevalentes de abastecimento em leilões que limitam as relações diretas entre compradores e agricultores |
Diversificação de produtos hortícolas (por exemplo, ramos preparados ou piretro, inseticidas naturais) Inovação e competitividade a longo prazo no polo da agricultura Canais de venda alternativos com novos supermercados |
O lago Naivasha tem registado mudanças drásticas no nível da água Poluição causada pelo transporte aéreo de mercadorias Vulnerabilidade do setor orientado para a exportação a choques macroeconómicos |
Norte de África |
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Tamareiras |
Aumento contínuo do comércio mundial (ou seja, em 2016, a região produziu mais de um terço das tâmaras mundiais) Fortes ligações inter-regionais (por exemplo, em 2016, Marrocos foi o maior importador de tâmaras egípcias e tunisinas) Fonte importante de receitas de exportação e cultura de elevada rentabilidade para pequenos agricultores, os quais representam 70 % do total |
Falta de esforços de I&D na cadeia de abastecimento e no marketing Pequenos produtores mal equipados (por exemplo, máquinas, instalações de armazenagem frigorífica e sistemas de embalagem deficientes) Práticas ultrapassadas relacionadas com a cultura (por exemplo, polinização manual, manuseamento pós-colheita). |
Fonte segura de alimentos e nutrição, por exemplo para programas de almoço escolar Utilização de sementes e tâmaras que caem das palmeiras antes da maturidade para a alimentação animal, a fim de reduzir os desperdícios |
Propagação de pragas (escaravelho vermelho da palmeira) e doenças (bayoudh) Insegurança e agitação política em alguns países |
Produção de energia |
Região rica em recursos de energia solar e eólica Aumento de 40 % na produção de energia renovável na região na última década Reformas bem-sucedidas em matéria de tarifas de aquisição de energia, acordos de compra de energia e venda em leilão, reforço do financiamento privado |
Peso limitado das energias renováveis no cabaz energético global, com 4.6 % vs. uma média global de 25 % Até 2025, serão necessários 13 mil milhões USD anuais para apoiar a renovação das infraestruturas Penetração das energias renováveis centrada principalmente nos sistemas de aquecimento e no transporte |
Grande fornecedor para o resto do continente (por exemplo, a quota de gás no cabaz energético é de 5 % na África Subsariana) Urbanização e propriedade de veículos em crescimento que fazem dos transportes o setor energético com o crescimento mais rápido Possível redução do risco de investimento e implantação oportuna favorável devido a leilões eficazes |
Vulnerabilidade dos países dependentes do petróleo a choques cíclicos Dependência constante dos subsídios que exercem pressão sobre os orçamentos nacionais Países em stress hídrico enfrentam desafios na sua transição energética por causa da energia térmica e hidroelétrica e forte dependência da água |
Fosfato |
Importante detentor das reservas mundiais de fosfatos (só Marrocos tem 74 %) Fonte principal de divisas |
Atividades de processamento altamente consumidoras de água Gestão dos resíduos e poluição que afetam os habitantes das zonas costeiras Abastecimento constante não garantido devido à turbulência geopolítica |
As atividades de beneficiamento ajudam a melhorar a integração da cadeia de valor Incentivar a adoção de procedimentos aduaneiros e fronteiriços para impulsionar o comércio regional Projeção do crescimento mundial de fosfatos de 7.2 % ao ano entre 2020 e 2027 |
Exigências sociopolíticas de encerramento de operações de mineração O impacto climático da transformação deverá duplicar até 2050 Redução das funções microbianas fundamentais para a saúde das culturas devido à utilização excessiva de fosfatos |
África Ocidental |
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Construção |
Aumento do conteúdo local (ou seja, empresas nacionais que atuam como contratantes ou subcontratantes de empresas multinacionais) Forte potencial de crescimento da produtividade e efeito multiplicador Vontade política para reduzir o défice de habitação |
Corrupção e preços contratuais inflacionados Aumento dos custos dos projetos provocado pelos aumentos dos preços do aço e dos terrenos Oferta limitada de capital e enfraquecimento da moeda local |
Crescimento previsto do mercado mundial do cimento verde (ou seja, 38.1 mil milhões USD em 2024, face a 14.8 mil milhões USD em 2015) Elevada dependência de geradores de suporte, o que indica oportunidade de crescimento em iniciativas de energia renovável Tecnologias de construção alternativas (isto é, painéis de poliestireno expandido, blocos de lama reforçados com cimento) que aceleram a construção, reduzem os custos e mobilizam mais trabalhadores |
Aumento dos custos dos materiais de construção e da mão de obra Margem orçamental estreita e encargos com a dívida após a COVID-19, que limitam os planos públicos de infraestruturas Concorrência dos fatores de produção importados |
Aves de capoeira |
Diversidade de perfis profissionais, de veterinários qualificados para agricultores não qualificados A procura regional de aves de capoeira é o dobro da capacidade de abastecimento de 2017 Recentes investimentos públicos pós-crise da gripe aviária para relançar o setor |
Restrições à importação dadas as preocupações com a gripe aviária Acesso limitado às facilidades de crédito e aos sistemas de seguros para apoiar os agricultores Rotas de transporte limitadas e inóspitas que conduzem a uma deterioração dos produtos |
Baixos custos de investimento que facilitam a integração de grupos vulneráveis (mulheres) Investigação e desenvolvimento para alimentos para animais e cuidados com os animais mais eficientes Investimentos municipais para melhorar as práticas de saneamento |
Contaminação e doença dos animais Concorrência dos grandes produtores Aumento das importações de aves de capoeira congeladas e outras carnes substitutas próximas |
Caju |
Aumento da procura de miolo de caju Forte apoio político ao desenvolvimento desta cadeia de valor (por exemplo, o Plano Nacional de Desenvolvimento da Côte d’Ivoire visa uma taxa de transformação de 50 % em 2030) Medidas inter-regionais de promoção da transformação local (por exemplo, isenções dos direitos de importação aplicáveis às máquinas e subsídios diretos e apoio pré-financeiro à compra de caju em bruto) |
Elevados custos do negócio e investimento e défices de infraestrutura Dificuldade em garantir a qualidade do caju em bruto durante os quatro meses da campanha de colheita Um mercado interno de transformação deficiente. |
Transformação complementar (por exemplo, menos de 15 % dos frutos de casca rija cultivados na África Oriental e Ocidental são descascados no continente) Empenhamento em padrões mais elevados (rastreabilidade, transparência e sustentabilidade das cadeias alimentares) Uma maior valorização dos produtos, pois os principais mercados de exportação (ou seja, a União Europeia e os Estados Unidos) exigem miolos inteiros de caju de elevada qualidade, consumidos principalmente como snacks. |
Restrições à exportação de caju em bruto que promovem a transformação incentivaram o contrabando Proibições de exportação através das fronteiras terrestres que limitam o acesso às matérias-primas pelos transformadores |
África Austral |
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Têxtil |
Aumento da procura mundial de têxteis africanos Reforço da integração regional das cadeias de valor do têxtil e vestuário Estreita proximidade com os mercados asiáticos |
A competitividade é enfraquecida por direitos elevados (por exemplo, uma taxa de 22 % sobre os tecidos) Competências limitadas aos níveis técnico e de gestão intermédia Reduzidos investimentos de capital, processos de melhoria da eficiência e formação em competências do investimento direto estrangeiro (IDE) relacionado com os têxteis |
Rápido aumento dos salários na China, tornando a região mais competitiva Design, marca e marketing para subir na cadeia A obtenção de tecidos na região pode reduzir os custos de transporte |
Metais tóxicos, corantes e agentes de branqueamento que tornem tóxicos o solo e os sedimentos Barreiras à entrada baixas que não incentivam a requalificação dos trabalhadores e a melhoria social Concorrência das importações de vestuário em segunda mão |
Sal de cozinha |
Região rica em recursos (ou seja, reservas de sal e clima seco para a produção) Mineração de sal que causa danos ambientais mínimos Governos que concedem licenças de apoio à exploração de minérios em pequena escala |
Falta de financiamento que inibe a construção e expansão de instalações de processamento de sal Transporte com utilização intensiva de energia e caro Técnicas antiquadas de produção de sal e de iodização |
Indústria química em crescimento que requer sal importado de elevada qualidade Países incentivados a aderir à União Aduaneira da África Austral para minimizar os custos comerciais com os principais exportadores de sal (Botswana e Namíbia) Mineração e transformação permitem atividades futuras de produção de minerais |
Oligopólio emergente Obstáculos comerciais que inibem o fornecimento necessário de iodatos de potássio e perturbam os processos de iodização |
Aquicultura |
Aumento da produção aquícola na SADC (ou seja, 100 950 toneladas em 2020, face a 92 773 toneladas em 2019) Cerca de 145 000 postos de trabalho diretos e 1 milhão de postos de trabalho que beneficiam indiretamente Vontade política geral (ou seja, execução de programas nacionais de aquicultura em 12 Estados da SADC e a sua estratégia regional) |
Condições ambientais subótimas (variação da temperatura e aridez) Fraca governação e licenças onerosas no processo de reorganização de zonas Produção limitada devido à costa muito agitada e a uma área fluvial escassa |
Ajuda pública crescente, conhecimentos especializados e IDE na aquicultura através do Fish for All Summit (2005) da NEPAD e do Programa Especial para o Desenvolvimento da Aquicultura em África da FAO O aumento das áreas marinhas protegidas (AMP) para ajudar a conservar as unidades populacionais de peixes e a vida marinha (por exemplo, a parte da África do Sul nas AMP aumentou de 0.43 % em 2016 para 5 % em 2020) Aquicultura orientada para as empresas que impulsiona o desenvolvimento de produção doméstica privada de alimentos para animais e diversifica as espécies de peixes produzidos |
Turismo que pode colocar riscos através dos resíduos e da degradação dos habitats costeiros Intensificação crescente, criando riscos ambientais e socioeconómicos Grandes volumes de farinha de peixe que afetam as unidades populacionais selvagens (adultos e juvenis) |
Fonte: Compilação dos autores.
Anexo 2.A2. Exemplos de iniciativas emblemáticas para mobilizar investimentos em África
Copy link to Anexo 2.A2. Exemplos de iniciativas emblemáticas para mobilizar investimentos em ÁfricaTabela 2.A2.1. Iniciativas emblemáticas selecionadas para mobilizar os investimentos estrangeiros em África
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País (Entidade responsável) |
Iniciativa (Última atualização/ ano final) |
Principais características |
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China (Departamento para África do Ministério dos Negócios Estrangeiros) |
Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) (2000 - em curso) |
Os principais compromissos do FOCAC têm estado relacionados com o aumento do comércio, o aumento do investimento direto estrangeiro e a promoção da cooperação Sul-Sul. Segundo as autoridades chinesas, através do FOCAC, a China cancelou dívidas de empréstimos sem juros para 15 países africanos. O fórum realiza-se de três em três anos, e o último aconteceu em novembro de 2021, no Senegal. |
União Europeia |
Plataforma para o investimento em África (PIA) (2017 - em curso) |
A PIA prevê a combinação de recursos de subvenção da União Europeia para a mobilização de empréstimos do Banco Europeu de Investimento e de outras instituições de financiamento elegíveis. |
Aliança África-Europa para Investimento e Empregos Sustentáveis |
A Aliança aproveita o investimento e o comércio para impulsionar o emprego e o crescimento sustentável em África. Baseia-se num “novo quadro que permite um aumento substancial do investimento privado de africanos e europeus”, bem como nas propostas da Comissão Europeia para o próximo Quadro Financeiro Plurianual e nos resultados das reuniões entre a União Europeia e a Comissão da União Africana. Foi proposto um investimento de 40 mil milhões de euros (EUR) em África para o período de 2021 até 2027. |
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França (AFD e PROPARCO) |
Choose Africa (2018-22) |
A iniciativa Choose Africa foi inicialmente fixada em 2.5 mil milhões de euros para apoiar financeiramente as start-ups e as micro, pequenas e médias empresas africanas e ajudá-las nas várias fases do seu desenvolvimento, nomeadamente através de parceiros locais. |
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Choose Africa Resilience (2020-22) |
A segunda parte da iniciativa Choose Africa acrescentou mil milhões EUR para apoiar os setores privados formais e informais em África, que foram enfraquecidos pela crise da COVID-19. Este mecanismo inclui instrumentos para empréstimos, garantias, investimentos de capital e assistência adaptados à situação de crise. |
Índia (Confederação da Indústria Indiana e Banco das Importações e Exportações da Índia) |
Conclave CII-EXIM Bank sobre a Parceria do Projeto Índia-África (2005 - em curso) |
O Conclave é fundamental na construção de parcerias e no reforço do compromisso económico entre a Índia e África. É apoiado pelo Ministério dos Assuntos Externos da Índia e pelo Ministério do Comércio e Indústria. A 16a edição do Conclave teve lugar em julho de 2021. |
Japão (Ministério dos Negócios Estrangeiros) |
Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África (TICAD) (1993 - em curso) |
A última conferência TICAD, em 2019 (TICAD VII), centrou-se na promoção das empresas e prometeu alcançar mais de 20 mil milhões USD em investimento privado. O processo TICAD tem um mecanismo de acompanhamento para realizar conferências ministeriais para acompanhar as iniciativas de desenvolvimento africanas adotadas pelas cimeiras do TICAD. |
Espanha (Ministério dos Negócios Estrangeiros) |
Plano de ação Foco África 2023, ao abrigo do Plano África III (2021) |
O Foco África 2023 implementa o Plano África III. Este projeto presta uma atenção estratégica à promoção do comércio e ao aumento do investimento espanhol, bem como à presença de empresas espanholas em África. Dá prioridade aos seguintes setores: agroalimentar; saneamento de água e gestão dos resíduos; energias renováveis; infraestruturas de transportes; indústria química e farmacêutica; e transformação digital. |
Estados Unidos (USAID) |
Prosper África (2020-26) |
A Prosper Africa é a iniciativa do Governo dos Estados Unidos de aumentar substancialmente o comércio e o investimento nos dois sentidos entre África e os Estados Unidos. No valor de 500 milhões USD ao longo de cinco anos, por cada 1 dólar de financiamento público, espera-se que a Prosper Africa alavanque mais de 9 USD em investimento privado. |
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Lei sobre Crescimento e Oportunidades para África, AGOA (2015-25) |
A AGOA proporciona a 38 países elegíveis da África Subsariana um acesso isento de direitos ao mercado dos Estados Unidos para mais de 1 800 produtos, para além dos mais de 5 000 produtos elegíveis para acesso com isenção de direitos no âmbito do programa Sistema de Preferências Generalizadas. |
Reino Unido (British International Investment plc, anteriormente CDC Group) |
Cimeira de Investimento Reino Unido-África (2020 - em curso) |
Na primeira Cimeira (em janeiro de 2020), o Reino Unido anunciou que iria expandir o programa Manufaturing Africa, gerando um volume considerável de novos IDE no setor da transformação na África Ocidental, e que iria criar novas parcerias com as Agências de Promoção do Investimento na África do Sul e na Nigéria (financiamento de 25 milhões de libras esterlinas [GBP]). |
Fonte: Compilação dos autores.
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